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Avante Campinas (Clodô, F99)

28/04/2017 - Por rodolpho bochicchio do amaral schmidt
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Texto publicado no Correio Popular de Campinas em maio de 2013.

Tive o prazer de participar semana passada do evento "Olho no Olho" promovido pelo Secovi Campinas O evento objetiva proporcionar um diálogo com o poder público da cidade e aproximar as relações para um planejamento pensando no futuro da cidade. O evento contou com a participação do Prefeito Jonas Donizette, que apresentou um resumo dos 100 primeiros dias de sua administração.

O evento teve seu foco na discussão do planejamento urbano da cidade e mais de uma vez ecoou-se a frase "desenvolvimento sustentável de Campinas". Esta frase me fez refletir, e percebi que em nenhum momento do evento, sequer, foi citado o tema ou a preocupação com o planejamento rural da cidade. Refleti mais um pouco e percebi que há anos não se houve um pio de preocupação, ou de vontade politica a respeito do desenvolvimento rural no município. Dai pensei; como pode um município querer planejar seu desenvolvimento urbano, pensando no jargão da sustentabilidade, ou mesmo sem este foco, sem tomar como partido um planejamento das áreas rurais.

Campinas possui hoje suas áreas rurais reféns da especulação imobiliária, áreas completamente amarradas ao abandono, a total degradação ambiental, promovidos pelo sonho da falsa riqueza gerada pela expansão imobiliária. Áreas rurais abandonadas, que não são de fato abandonadas, pois, caso contrario, poderiam ser invadidas por oportunistas, ou pior ainda, por florestas. Ou seja, quilômetros de terras paradas, incapazes de produzirem uma raiz, um tubérculo, uma folha ou fruto se quer.

Quem seria o louco de produzir um pomar de frutas, ao lado de um bairro de periferia? Qual a viabilidade de se produzir hortaliças em terras onde se sonha construir casas de alto padrão?

E quem diria... Estamos em Campinas, cidade do IAC?!

Como podemos pensar em uma cidade, pensar em habitar sem pensar em produzir alimento, sem pensar em produzir agua limpa. Não é preciso conhecer a fundo o termo sustentável para sentirmos fome e sede, para querer alimento fresco e agua pura em nosso quintal.

Não é possível desenvolver uma cidade sustentavelmente planejada, se o planejamento não se iniciar por uma politica concreta de produção de alimentos e agua. Como interromper a especulação imobiliária irracional, como resgatar os centros urbanos, como se voltar para o desenvolvimento urbano planejado se não pararmos de crescer horizontalmente, se não existirem limites concretos para o adensamento populacional. O único limite concreto para o crescimento urbano é a existência de áreas rurais consolidas produtivamente.

Sempre me surpreendo quando acesso reportagens onde é possível ver imagens da Av. Champs Elysees, em Paris, tomada por tratores, durante protestos por melhores politicas agrícolas. Eu me indago. Como conseguem levar tantos tratores para lá? Logo me vem a conclusão, eles vão rodando, pois estão ali mesmo, dentro das cidades.

Campinas, ou qualquer cidade do mundo, só poderá se considerar uma cidade de verdade, se tiver suas áreas rurais produtivas, se tiver turismo, produção agrícola, e áreas urbanas planejadas. ai sim, podemos falar em uma cidade sustentável.

Portanto sugiro que os Campineiros não sonhem em construir sobre o IAC um Shopping Center, estou usando uma metáfora, espero eu, e transformar os seus solos que ainda respiram em ruas e calçadas.

Não podemos fortalecer a ignorância gananciosa que nos levou a destruir nossos bondes, nossa estações ferroviárias, nossa arborização urbana e nossas vivencias rurais. Precisamos sim, como se propõem o Secovi e seus parceiros, planejarmos nossa cidade, tirando a sustentabilidade da boca e fincando ela no chão.

Nós Campineiros, podemos sonhar com empresas reurbanizando o centro da cidade, reurbanizando os bairros antigos, e os mais recentes ocupados sem planejamento. Temos que sonhar com uma cidade sem corrupção e sem a consequente burocracia que ela traz, sonhar com uma cidade que conte com o apoio da prefeitura e de seus funcionários, hoje desestimulados e acomodados. Precisamos sonhar com empresas produzindo paisagens rurais deslumbrantes, com campos produtivos, com vilas rurais turísticas, sem erosões, sem abandono, sem pobreza financeira e de espirito.

Enfim, sugiro que Campinas volte a se desenvolver ruralmente e urbanisticamente para se transformar em uma cidade de fato, e não em uma favela, para onde tem caminhado com passos largos nas ultimas décadas.

Rodolpho Schmidt (Clodô, F99) é Eng Florestal, Ex Morador da República Kpixama, Empresário sócio da CBFT - Cia Brasileira de Florestas Tropicais
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