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Biologia sem biologia (Sandi; F08)

19/07/2017 - Por adelino de santi júnior
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Há pouca ou nenhuma biologia nos movimentos estudantis dos alunos de Universidades Públicas dos cursos de Ciências Biológicas.

Quer seja via ENEBIO - Entidade Nacional dos Estudantes de Biologia, EREB - Encontro Regional dos Estudantes de Biologia ou Levante Popular da Juventude (um braço político que defende, entre outras coisas, a manutenção da ditadura de Maduro na Venezuela), ocorre uma profunda descaracterização e afastamento do conhecimento acadêmico por parte destes movimentos, levando à inevitável queda de qualidade e politização do conteúdo disseminado nos encontros promovidos por tais grupos.

Assim como em outros cursos, ocorre o desenvolvimento e aproximação de discursos pós-modernos.

O pós-modernismo é um movimento filosófico e artístico iniciado nos anos de 1960 na França, que tem como elementos principais a negação do humanismo liberal, da ciência, da filosofia da ética e do racionalismo.

Sob a ótica marxista, o pós-modernismo enxerga o mundo como um conjunto de opressores e oprimidos, onde falam mais alto as vozes mais oprimidas e devem ser calados os valores ocidentais, burgueses e masculinos.

Segundo a lógica pós-moderna, quanto mais sofrido o sujeito, mais valor tem suas palavras, independentemente do quão absurdas sejam suas proposições. Questionar qualquer uma dessas opiniões é visto como uma atitude "opressora".

Além disso, o pós-modernismo prega o relativismo epistêmico, segundo o qual não há diferença entre a ciência moderna e o xamanismo, por exemplo. Sendo ambos interpretações distintas, porém com mesmo valor, do mundo natural.

Ou seja, se um integrante de determinada minoria diz que o glifosato está matando sua comunidade, isso é tomado como verdade, independente do que dizem os dados coletados em campo e análises estatísticas, provavelmente feitas por "homens brancos e burgueses", a pior escória para esses movimentos.

Como resultado da adoção de tais discursos, os movimentos acadêmicos de estudantes de biologia - majoritariamente de universidades públicas - tornaram-se um palanque sombrio de ideias obscurantistas e autoritárias.

Passaram a negar a influência da biologia (pasmem!) no comportamento e desenvolvimento humano.

Negam o uso de novas tecnologias, como a transgenia, apesar da ausência de justificativas técnico-científicas para tal.

Disseminam e apoiam a prática de pseudociências, valorizando a vivência sobre a análise de dados, utilizando referências anedóticas como base na tomada de decisões.

Utilizam a estrutura dos Centros Acadêmicos para disseminação de discursos políticos, tal como apoio ao MST, tendo praticamente posto fim nos encontros com conteúdos acadêmicos ligados a temas centrais das Ciências Biológicas.

A versão Esalqueana do processo incluiu oposição a liberação do mosquito transgênico pela empresa Oxitec, no município de Piracicaba.

Houve até mesmo um(a) aluno(a) da Biologia que, embora recebesse bolsa da Oxitec para informar a população sobre a importância do mosquito transgênico, atuava nos bastidores contra a Empresa. Tal exercício serviu inclusive para embaraçar a participação da Oxitec em um evento da Biologia, o Bio na Rua.

Contraditório? Muito!

Há pouco tempo, o Centro Acadêmico de Ciências Biológicas da ESALQ, sob gestão do Levante Popular da Juventude, lançou uma nota de apoio à invasão da Fazenda Figueira (de propriedade da FEALQ, em Londrina - PR) pelo MST. As justificativas estavam todas pautadas em discursos sobre oprimidos e opressores, desconsiderando toda a importância técnica e social da FEALQ para as comunidades impactadas.

O apoio à invasão foi retirado após a pressão de um grupo de ex-alunos do curso de Ciências Biológicas da ESALQ.

Vale ressaltar que essas não são práticas disseminadas entre todos os alunos de Ciências Biológicas. Mas o silêncio de uma parcela significativa de alunos tem tornado o discurso de negação da ciência a voz mais ouvida entre os movimentos estudantis.

Perdem com isso os alunos e toda comunidade acadêmica ligada direta e indiretamente aos cursos de Ciências Biológicas, pautas estudantis são deixadas de lado para se dar ouvido a pautas de grupos como o MST e o Levante Popular da Juventude.

Cursar uma graduação de Ciências Biológicas envolve, dentre outras coisas, imergir em conceitos e práticas ligadas às ciências que compõem a estrutura do curso, assim como entender os impactos reais e potenciais destas ciências na vida de milhões de pessoas mundo afora.

Sem isso é impossível levar para a sociedade os frutos do trabalho acadêmico, nem justificar a manutenção dessa importante estrutura pública.

Utilizar a academia para alavancar agendas políticas é usurpar da estrutura das Universidades Públicas para favorecer agendas privadas.

Eis a verdadeira privatização da Universidade!


Para saber mais sobre pós-modernismo e o impacto do movimento nas universidades mundo afora, leia esse texto.

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