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Carta Gestor - Chegou maio, mês da vacina! É possível fazer diferente (Scot; F76)

19/04/2018 - Por alcides de moura torres junior
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Mesmo as práticas mais conhecidas das fazendas, aquelas que passam de geração para geração, devem se atualizar. Como sempre digo, mexe-se em time que está ganhando, pois, o que nos trouxe até aqui, não necessariamente, nos levará à frente.


Dentre os processos em fazendas, um dos mais tradicionais em qualquer tipo de propriedade pecuária é a vacinação. Aproveito a época pré-campanha para sugerir ajustes que podem ser realizados nesse manejo para aprimorá-lo, porém, mais do que isso, gostaria de motivar a reflexão sobre como é possível melhorar os processos de trabalho, mesmos aqueles arraigados e culturalmente instituídos nas equipes. Sem dúvida, o lucro da pecuária de precisão está na excelência do cumprimento desses detalhes.  


Voltando para o exemplo, as etapas do processo de vacinação permitem alcançar outros ganhos além da imunização em si do rebanho ou o cumprimento de uma determinação legal.  É possível trabalhar questões de planejamento, motivação de equipe, boas práticas, bem-estar animal, otimização de recursos e qualidade da carne. Já pensou nisso? 


Todo o processo deve começar com o planejamento de quantas pessoas irão trabalhar e onde ficarão alocadas. O grupo pode estar dividido em duas equipes: a da vacina em si e aquela que irá trazer e levar o gado. O curral é lugar de trânsito e nunca deve estar cheio de animais. Também é preciso definir qual será a logística da ordem dos retiros, fazenda por fazenda.


Os insumos devem ser revistos como caixa, gelo, vacina, agulha, seringa e seus reparos; além de medicamentos que podem ser necessários para emergência. A lista de materiais deve ser checada até dois dias antes da vacinação, para que haja tempo de compra, se necessário. Também deve ser feita uma revisão no curral para ajustar pontas e tabuas que estejam caindo. Tem gente que sofre durante todo o manejo de vacinação com um problema na guilhotina ou no curral, por exemplo, para consertá-lo só no final do manejo. Isso é pouco inteligente, além de arriscado.


Reunião de lançamento do serviço


Antes de começar o procedimento é importante que toda a equipe esteja no curral para a definição dos combinados em uma "reunião de lançamento". Deve-se questionar: o que se espera da vacina? Quais os melhores procedimentos? O que não deve acontecer?  E, na conversa, o líder irá passar a mensagem para que as pessoas tenham cuidado e façam o manejo com calma. Ele irá orientar sobre a troca de agulhas e prática para a conservação do produto. Vale uma reciclagem do procedimento, mostrando o local de correto da vacinação como também orientações para reduzir as quebras de agulha e a contaminação. A reunião não tem por objetivo "chover no molhado", mas incentivar o debate educacional para nivelar o conhecimento, relembrar práticas esquecidas e valorizar quem faz bem feito. No final da reunião, deve-se enfatizar o que se espera: a imunização correta, sem acidente para os animais e para as pessoas.


A vacinação deve acontecer no tronco de contenção. Isso é inegociável! Não há como vacinar     os animais no brete supondo que haverá maior velocidade de procedimento. Já foi comprovado cientificamente que o manejo de vacinação é mais eficaz com o animal contido e isso pode até diminuir o tempo de operação. A prática corrobora com o que dizem as pesquisas. Quem está na lida sabe o tempo que se perde ao desvirar um animal que pula no meio do brete, o que é comum. Além da insegurança e prejuízo pela incerteza da aplicação correta.


O líder ou proprietário, ao acompanhar o procedimento no curral, não deve apressar as pessoas. O manejo deve seguir seu ritmo com cuidado, pois nesse caso o indicador importante não é o número de animais vacinados/dia ou o tempo da operação. O correto será medir a qualidade da aplicação da vacina, número de abcesso, número de acidentes etc. A métrica irá considerar os indicadores que mostrem a qualidade do processo.


Aproveitar a passagem dos animais para outros controles


A vacinação é o momento em que todos os animais são supervisionados, individualmente, pela equipe. Manejos de reprodução ou outros cuja vacinação possa comprometer o desempenho não devem ser realizados, por outro lado, há controles que podem ser feitos.


Fazendas que trabalham com engorda podem aproveitar o manejo para fazer aferição de peso. As demais devem coletar o peso de 15% (desde que o aparte seja de até 30kg) do lote para verificar se o ganho está dentro do previsto, pois se necessário, há tempo de fazer ajustes nutricionais para alcançar a meta estipulada. A aferição de amostra também permite verificar a homogeneidade do lote. Se necessário, também pode ser feito um novo aparte de lotes muito heterogêneos.


A pesagem também é um indicativo para as fêmeas que entrarão em reprodução no final do ano. Por ocorrer em período que antecede a seca pode-se avaliar o peso das fêmeas e prever se estarão no escore desejado para a estação de monta. Se identificado que estão magras ainda há tempo de um reequilíbrio nutricional para que elas cheguem com peso adequado na estação. Fechar os olhos sobre isso é ter mais fêmeas vazias no fim do ano e, consequentemente, menor produção ao nascimento.


Por exemplo, as novilhas devem estar com mínimo de 300kg para concepção. Se a aferição, na vacina, apontar fêmeas jovens com 220kg é preciso avaliar qual será a estratégia para que esse animal ganhe os 80kg até a monta e manter um bom índice reprodutivo. Os ajustes vão indicar uma mudança no manejo, readequação de lotes e atualização do plano nutricional para a conquista do peso necessário.


Grandes rebanhos, com retiros afastados, podem aproveitar esse momento de passagem no curral para uma auditoria na fazenda e marcação fria para contagem do gado. Ao voltar para o retiro, se há animais sem a marca fria, conclui-se que não foram contabilizados e vacinados (soca) e pode-se aplicar o manejo. Dica prática é contar os animais sempre "na saída", ou seja, quando estão sendo soltos do brete, com uma conferência, se necessário, na passagem de uma área a outra do curral. Assim, não há erro.


Ao fim do processo é hora de uma reunião final de avaliação. Quais foram nossos acertos? O que faltou e precisamos ter cuidado da próxima vez? Qual foi o número de ocorrências? Quantas agulhas quebradas? Esse é um momento de integração, aprendizado e fortalecimento de um novo jeito para velhos manejos. Haverá mais organização, preparo, capricho e a certeza da imunização. Colhe-se a integração da equipe, noções de planejamento, bem-estar e saúde animal. Fora da porteira, o reflexo está na ascensão do status sanitário brasileiro o que impacta diretamente no mercado internacional e na sustentação de toda a cadeia. 

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