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Rápido e Devagar (Alfinet - F09)

24/06/2016 - Por rodolfo tramontina de oliveira e castro
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Na próxima semana, a convite da Empiricus, assistirei a palestra do Daniel Kahneman, Nobel em Economia pelo seu trabalho com economia comportamental. Para me preparar resolvi reler seu best-seller "Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar".

Como o nome diz, o livro divide nossa capacidade de pensamento em dois sistemas. O Sistema 1, o Rápido, e o Sistema 2, o... Devagar. (não precisava ser um Nobel para acertar essa).

O Sistema 1 responde por grande parte de nossas decisões e ações cotidianas. É ele, por exemplo, quem nos guia enquanto dirigimos um carro. Ninguém (exceção alunos de auto-escola) dirige pensando: "Agora é uma boa hora de frear. Pé esquerdo, pisar no freio. Favor regular a intensidade à medida que finalizo os cálculos de física".

O Sistema 1 funciona de forma automática. Fica ligado e em alerta o tempo todo acessando sua biblioteca à procura de respostas para nos guiar. Exceção quando a coisa aperta ou se torna mais complexa.

O Sistema 2 é o responsável por grandes esforços mentais. Por exemplo, um projeto que exija sua atenção por horas seguidas, contas de matemática mais complexas (21 x 19), ler um livro denso, etc.                            

O Sistema 2 é também quem monitora o Sistema 1. Voltando ao ato de dirigir, o Sistema 2 é quem ao visualizar um acidente de trânsito a frente, faz com que você pare de conversar com o carona e se concentre na estrada.

 

A PROPOSTA 1

Em matéria recente, o Estado de São Paulo noticiou que o Ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, analisa a cobrança de INSS das empresas exportadoras do agronegócio para aliviar o rombo na Previdência.

Sob o ponto de vista do Sistema 1 a proposta faz total sentido. Distribuir um pouco dos louros do setor que está caminhando bem para auxiliar um projeto que está indo mal.

A RESPOSTA 2

Representantes do agronegócio reagiram veemente e negativamente à proposta. Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, disse que tratar-se de "um tiro no pé". O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, classificou como "loucura" e "abraço de afogado", ainda segundo o Estado.

A linha de pensamento do Sistema 2 é que taxar as exportações irá reduzir a competitividade do setor, que por sua vez é o principal motor da balança comercial, portanto, iria desequilibrar ainda mais as contas públicas. Daí as expressões "tiro no pé" e "abraço de afogado".

A VIA 3

Quem se posicionou como terceira via no debate foi o presidente da Sociedade Rural Brasileira, Gustavo Diniz Junqueira. Para ele, é preciso ampliar o diálogo e ver como o agronegócio pode ou deve contribuir com o INSS, em dois pontos: (i) equalização entre contribuições dos trabalhadores rurais e urbanos e (ii) o passivo gerado a partir da incorporação dos trabalhadores do campo à Previdência.


FMK AGRO

Ambos os sistemas possuem falhas e vícios. O Sistema 1 é facilmente enganado e manipulado por diversos tipos de viés e associações. O Sistema 2 tem como defeito ser preguiçoso por ser muito demandante em esforço e energia, por esse motivo aceita muitas coisas que vem do Sistema 1 sem questionar. 

Façam o teste a seguir, rapidamente:

Uma raquete e uma bola custam 11 reais.

A raquete custo 10 reais a mais que a bola.

Quanto custa a bola?

 

Provavelmente sua resposta foi 1 real.

O que aconteceu é que seu Sistema 1 analisou o quebra-cabeça, interpretou-o como uma conta de matemática simples (10+1) e respondeu. O seu Sistema 2, que também achou a conta simples, permaneceu em meia-fase, e nem percebeu que se a bola custasse 1 real, a raquete custaria 11 reais (10 reais a mais que a bola), e a soma resultaria em 12 reais, um engano.

A sobretaxação das exportações do agronegócio para contribuir com a Previdência é um caso típico de quando os dois sistemas optam por realizar as ações no automático e em baixo esforço, respectivamente, porque a alternativa é muito trabalhosa.

A reforma da Previdência deve passar por reformar o modelo de Previdência (por mais óbvio que pareça), não encontrar quem vai pagar a conta. No sistema atual brasileiro não existe poupança, somente transferências de renda. A alternativa é procurar soluções similares a Austrália, Suécia e, nosso vizinho, Chile onde cada trabalhador possui uma conta individual de sua aposentadoria e aloca seus recursos como bem entender. De bônus, pelo fato de existir poupança, a maior parte dos rendimentos vêm do retorno desses investimentos e não da transferência.

Nem rápido, nem devagar. Precisamos é de um norte.

Rodolfo Castro (Alfinet - F09) é Eng. Agrônomo, Coordenador Comercial da AgroTools e ex morador da República Kangaço
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