Blog Esalqueanos
A Evolução do Plantio Direto (Pinduca F68)
22/11/2015 - Por marcio joão scaléaAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

naltrexone online buy
naltrexone dosage Na
Natureza, a ordem básica é evoluir. Quem evolui se perpetua, quem estaciona
sucumbe. Na agricultura, interação do homem com a Natureza, a evolução é também
o principal fator de perpetuação das tecnologias e processos adotados na sua
condução.
Há alguns
anos foram enunciados os cinco fundamentos do Plantio Direto :
1- Eliminação
das operações de preparo de solo.
2- Uso
de herbicidas dessecantes.
3- Obtenção
de cobertura morta.
4- Plantio
com máquinas específicas.
5- Praticar
a rotação de culturas.
Tiveram
eles, na época, a função de direcionar, de forma didática, os esforços e as
atividades dos que se iniciavam na adoção da tecnologia do Plantio Direto no
Cerrado. Eles cumpriram o seu papel. Passados quase quinze anos, será que esses
fundamentos ainda são aplicáveis? Serão atuais? Evoluíram ou estacionaram? É o
que tentaremos avaliar.
Eliminação das
operações de preparo do solo:
O enfoque
dado no passado a este fundamento, era o seu efeito nas propriedades físicas do
solo, afetando a estrutura, porosidade e capacidade de infiltração da água das
chuvas, desembocando no problema maior, que era a erosão. O grande argumento
para parar de preparar o solo era o controle da erosão, o que continua válido
hoje, mas suplantado em importância por dois outros aspectos : destruição da
matéria orgânica e a conseqüente liberação de CO2 para a atmosfera.
O
fundamento, então, evoluiu : hoje é imperioso parar de preparar o solo para, no
mínimo, preservar a matéria orgânica, principal fator de produção desse solo.
Calcário e adubo, havendo a decisão e o capital para a compra, podem ser
adicionados às toneladas a qualquer solo. Matéria orgânica não se compra, ela é
muito fácil de ser perdida, mas é reposta com dificuldade, principalmente nos
solos tropicais do Cerrado.
Por outro
lado, a contrapartida da manutenção da matéria orgânica dos solos é a redução
da emissão de CO2 para a atmosfera, aliviando a pressão sobre o efeito estufa.
Uso de herbicidas
dessecantes :
Este
fundamento, no passado, era uma conseqüência do ato de parar de preparar o solo
: sem preparo o mato se instalava e precisava do dessecante para ser eliminado.
O grande argumento, como acima, era parar de preparar o solo. Usar o herbicida
era uma conseqüência. O enfoque dado hoje é de que o convívio com as plantas
daninhas no Plantio Direto está inserido numa série de atividades, das quais o
uso de herbicidas é apenas um item, geralmente o último a ser considerado.
Procura-se evitar problemas com o mato através de práticas como a rotação de
culturas, a produção de palhadas, a integração com atividades como a pecuária,
o manejo mecânico e mesmo métodos alternativos como a sobresemeadura de
culturas para a produção de massa. Só depois entram os herbicidas dessecantes,
cujo uso também evoluiu da tradicional aplicação única em pré-plantio, para o
uso de aplicações complementares, como no caso do manejo pós colheita.
Vemos,
então, que este fundamento também evoluiu, principalmente quando se considera
ainda o benefício trazido pela biotecnologia, através das culturas RR :
eficiência, simplicidade e baixo custo.
Obtenção da
cobertura morta :
No passado,
o grande argumento que se usava para induzir um agricultor a produzir boas
coberturas mortas, era o efeito protetor da palhada sobre o solo : contra as
gotas da chuva, evitando a erosão; contra o sol, reduzindo a amplitude térmica;
contra o vento, aliviando a evaporação de umidade, etc. Tudo isso é importante
ainda hoje, mas perde em importância para o efeito básico da palhada sobre o
solo, que é o retorno de apreciáveis quantidades de matéria orgânica a este
solo. Há duas maneiras de privilegiar a matéria orgânica de um solo : a
primeira é não destruí-la, evitando preparar o solo; e a segunda é produzindo
boas coberturas mortas, que irão gerar grandes aportes de matéria orgânica nova
a esse solo, como evidenciado por autores como a Dra Ana Primavesi ou o
Professor João Carlos de Moraes Sá. Essa matéria orgânica é a chave da
sustentabilidade da exploração agrícola de um solo tropical.
Houve, então,
também neste fundamento, uma evolução, que se torna mais evidente quando se
procuram as maneiras de produzir boas coberturas mortas nas condições de
Cerrado. É incrível notar que as braquiarias perenes (brizanta, decumbens e ruziziensis),
que em passado recente eram o terror de muitos agricultores, pela dificuldade
em serem controladas, seja por herbicidas, seja por grades, hoje são
consideradas "parceiras" de primeira linha. A sua produção de palha durável, a
reciclagem de nutrientes, a desinfecção do solo de patógenos prejudiciais e a
possibilidade de pastejo no inverno, nos sistemas da Integração
Lavoura/Pecuária via Plantio Direto, as transformaram em companheiras
procuradas.
Plantio com
máquinas específicas :
Dentre os
fundamentos, este talvez seja o que menor evolução formal tenha apresentado nos
últimos anos. A engenharia se preocupou mais em aperfeiçoar atributos técnicos
do plantio em si : acuidade na distribuição de sementes e adubos, capacidade
dos reservatórios, melhoria nos rendimentos operacionais, muitos dispositivos
de eletrônica embarcada, etc, mas pouco foi acrescentado ao requisito básico do
Plantio Direto, que é o plantio através da palhada. Talvez a maior inovação
tenha sido a popularização das "multisemeadoras", máquinas capazes de aplicar
adubos e semear mais de uma cultura numa única passada, que tornaram o plantio
de pastos, temporários ou definitivos, bem mais fáceis.
Praticar a rotação
de culturas :
Este fundamento,
em si, não evolui : ele é de recomendação já em tempos muito remotos, sempre
eterno e sempre novo. Eterno pelo alcance na quebra do ciclo de plantas
daninhas, pragas e doenças, que o tornam tão importante para qualquer sistema
de plantio, mas essencial para o Plantio Direto. E novo, pelas possibilidades
que aparecem nos sistemas de Integração Lavoura/Pecuária via Plantio Direto, em
que uma pastagem se constitui em excelente cultura de rotação para uma área
agrícola em degradação, com problemas de doenças para a soja, por exemplo. Ou
em que o plantio de uma lavoura representa uma saída natural para a recuperação
de uma pastagem degradada. Em ambas as situações há ganhos em produtividade e
redução de custos, como comprovam inúmeros experimentos e áreas comerciais.
Conclui-se,
então, que o Plantio Direto através de seus fundamentos, apresentou notória
evolução nos últimos anos, perpetuando-se como prática agrícola essencial para
a sustentabilidade da exploração agrícola de um solo tropical de Cerrado.
Marcio Joao Scaléa (Pinduca F68) é Engenheiro Agrônomo ex morador da Republica Mosteiro