Blog Esalqueanos
Agricultura Regenerativa: O Futuro Sustentável do Agro
26/05/2025 - Por marco lorenzzo cunali ripoliAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

Marco Lorenzzo Cunali Ripoli, Ph.D. é Engenheiro Agrônomo e Mestre em Máquinas Agrícolas pela ESALQ-USP e Doutor em Energia na Agricultura pela UNESP, fundador do “O Agro não Para” e diretor e proprietário da BIOENERGY Consultoria, diretor-consultor da PH Advisory Group, investidor em empresas e palestrante. Acesse www.marcoripoli.com
______________________________
A agricultura regenerativa é o tema mais em alta na agricultura mundial em 2025, impulsionada pela necessidade de alimentar uma população crescente, projetada para atingir 9,8 bilhões até 2050, segundo estimativas da ONU, ao mesmo tempo em que enfrenta as mudanças climáticas. Diferente dos métodos tradicionais, que dependem de lavouras intensivas, uso excessivo de químicos e monoculturas, essa abordagem restaura a saúde do solo, aumenta a biodiversidade e captura carbono.
Globalmente, está ganhando força rapidamente – coberturas vegetais poderiam sequestrar 100 milhões de toneladas de CO² anualmente se adotadas em 85% das terras agrícolas dos EUA, reduzindo as emissões do setor em 18%, conforme estudo da Universidade de Cornell. Na Europa, 30% dos agricultores estão testando o plantio direto, que pode aumentar a matéria orgânica do solo em 0,5 tonelada por hectare anualmente, enquanto o governo da Índia pretende converter 25 milhões de hectares para práticas sustentáveis até 2030, segundo o Ministério da Agricultura indiano.
A tecnologia está impulsionando essa mudança – análises de solo baseadas em inteligência artificial melhoraram os rendimentos em 15% nas regiões de teste, e o uso de drones para o plantio de coberturas vegetais aumentou 40% desde 2022, de acordo com a FAO. A urgência é evidente – a agricultura representa 24% das emissões globais de gases de efeito estufa, conforme o IPCC, e com eventos climáticos extremos atingindo 80% das áreas agrícolas no ano passado, a resiliência tornou-se inegociável.
Os governos estão reagindo – o Acordo Verde da União Europeia tem como meta 25% da agricultura orgânica até 2030, e os EUA oferecem US$ 20 bilhões em subsídios para práticas regenerativas até 2026. Os consumidores também impulsionam essa demanda – 62% dos compradores globais agora preferem alimentos produzidos de forma sustentável, segundo pesquisa da Nielsen. Isso não é apenas uma tendência, mas uma estratégia de sobrevivência para a segurança alimentar e um planeta habitável.
No mundo, a agricultura regenerativa está se consolidando como resposta à degradação ambiental. Um relatório da McKinsey estima que, globalmente, a adoção dessas práticas em 20% das terras agrícolas poderia zerar as emissões líquidas de carbono do setor até 2050, capturando até 3 giga toneladas de CO² por ano. Nos EUA, a General Mills comprometeu-se a converter 1 milhão de acres (cerca de 405 mil hectares) para agricultura regenerativa até 2030, enquanto a PepsiCo. planeja atingir 2,83 milhões de hectares no mesmo período.
Na Austrália, fazendas de macadâmia regenerativas reduziram a necessidade de irrigação em 80%, dependendo quase exclusivamente de chuvas, segundo a Milkadamia. Já na África, o Quênia lidera com iniciativas que integram agrofloresta, aumentando a produtividade em 20% em pequenas propriedades, conforme dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A escala global impressiona: o mercado de agricultura regenerativa foi avaliado em US$ 8,13 bilhões em 2024 e deve crescer a uma taxa anual de 12,33%, alcançando US$ 18,35 bilhões até 2031, de acordo com a Kings Research.
No Brasil, a agricultura regenerativa se encaixa perfeitamente, aproveitando uma base já sólida. O país produz 30% da soja mundial e 15% da carne bovina, alimentando mais de 800 milhões de pessoas globalmente, segundo a Embrapa. Mais de 66% dos agricultores brasileiros utilizam bio soluções – fertilizantes naturais e controle biológico de pragas –, impulsionados pelo aumento de 150% no custo dos fertilizantes desde 2020 e por políticas como o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC). O plantio direto cobre 35 milhões de hectares no Brasil, mais do que em qualquer outro lugar, evitando a emissão de 1,2 tonelada de CO² por hectare anualmente, conforme dados do Ministério da Agricultura.
O Cerrado, que abrange 2 milhões de quilômetros quadrados, é um exemplo de potência regenerativa – 40% de suas áreas agrícolas utilizam sistemas integrados de lavoura-pecuária-floresta (ILPF), aumentando o carbono do solo em 0,8 tonelada por hectare ao ano, segundo a Embrapa. Um relatório recente da Um Só Planeta aponta que o Cerrado poderia gerar R$ 572 bilhões com agricultura regenerativa, impulsionando o PIB nacional. O Plano ABC+ do Brasil tem como meta restaurar 30 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030, e a meta de 2025 é reduzir as emissões em 48% – a agricultura representa 37% dessa redução, de acordo com o governo federal. Leis rigorosas, como o Código Florestal, protegem 25% das terras rurais privadas, promovendo a sustentabilidade sem impedir o crescimento.
Os números brasileiros são ainda mais expressivos quando olhamos o impacto econômico e ambiental. Em 2023, o Brasil tinha 130 milhões de hectares de terras degradadas, mas a agricultura regenerativa já recuperou 5 milhões de hectares desde 2010, segundo a Embrapa. A adoção de bio insumos cresceu 20% ao ano desde 2018, e 55% das propriedades familiares utilizam controle biológico, posicionando o país como líder mundial nesse quesito, conforme estudo da McKinsey.
A produção de soja em sistemas regenerativos no Mato Grosso aumentou os lucros em 12% por hectare, enquanto o uso de ILPF na pecuária elevou a produtividade de carne em 30%, de acordo com a CNA. Além disso, o Brasil exportou US$ 120 bilhões em produtos agrícolas em 2024, e 40% desse valor veio de práticas sustentáveis, atendendo à demanda de mercados como a UE, onde 70% dos compradores preferem soja sustentável.
No entanto, desafios persistem – apenas 6% dos US$ 12 bilhões em crédito rural concedidos em 2022 foram destinados a práticas de baixo carbono, e apenas 20% dos pequenos produtores têm acesso a treinamentos, segundo o Banco Central. A nível global, a falta de uma definição universal de agricultura regenerativa dificulta políticas consistentes – a FAO reconhece a agricultura conservacionista, mas ainda não chancela o modelo regenerativo como padrão. No Brasil, a transição custa entre US$ 200 e US$ 300 por hectare, e pequenos produtores, que cultivam 30% das terras aráveis, recebem apenas 15% do crédito disponível.
Mesmo assim, os agricultores brasileiros são líderes globais e estão preparados para expandir. As implicações para os produtores são imensas – oportunidades e desafios interligados. Métodos regenerativos podem aumentar a produtividade de terras degradadas entre 10% e 20%, algo essencial quando 15 milhões de hectares de pastagens estão subutilizados, conforme o IBGE. Métricas de saúde do solo, que serão lançadas em 2025 – como testes de carbono atingindo 500 partes por milhão –, podem desbloquear US$ 2 bilhões anuais em créditos de carbono se 20% das propriedades se qualificarem, estima a ClimateWorks. Os mercados de exportação estão famintos por produtos sustentáveis – 70% dos compradores da UE preferem soja sustentável, e a participação do Brasil pode subir de 40% para 50% até 2030. A resiliência também se paga – solos saudáveis reduzem a perda de água em 25%, essencial em um cenário em que 60% das fazendas enfrentaram secas no último ano, segundo o INMET.
Os custos, porém, pesam – além do investimento inicial, a capacitação é um entrave. Globalmente, apenas 10% dos agricultores têm acesso a treinamentos em práticas regenerativas, segundo a FAO, e no Brasil esse número sobe para 20%, ainda insuficiente. Riscos políticos também existem – restrições ao uso da terra podem se intensificar, e o investimento estrangeiro, que caiu 12% desde 2022, pode desacelerar ainda mais, conforme o Banco Mundial. Se o Brasil restaurar os 20 milhões de hectares planejados, o impacto global será enorme – 50 milhões de toneladas extras de grãos por ano, 10% a menos de emissões e economias rurais mais fortes. No mundo, a agricultura regenerativa poderia alimentar 10 bilhões de pessoas até 2050 sem aumentar as emissões, desde que 30% das terras agrícolas adotem essas práticas, projeta a Nature. Para os agricultores brasileiros, essa é a chance de liderar – alimentando o mundo enquanto o regenera.
O Agro não para!