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Algo errado em Terra Brasilisis (Tramela)

02/07/2015 - Por marco a militelli
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Um dos fundamentos importantes que moveu e move o progresso no mundo empresarial, e consequentemente também de várias nações do mundo, é o de assumir riscos desde que haja uma compensação financeira adequada. Atividades empresariais envolvem riscos. Para se empreender há a necessidade de assumir riscos que são considerados e assumidos somente quando há remuneração adequada por conta do fato desses mesmos riscos terem sido assumidos. As estatísticas mostram que é muito mais provável uma atividade empreendedora dar errado que dar certo.

Todas as pessoas possuem aversão à riscos, o que difere é o grau de tolerância de cada um: alguns toleram mais que outros e devido a isso tendem a assumir mais riscos. Investimentos de empreendedores em  empresas ou negócios, são realizados mesmo considerando os diversos riscos e responsabilidades que essas atividades representam, isso porque há uma expectativa de compensação financeira por conta dos riscos e responsabilidades assumidos.

Toda atividade empresarial envolve riscos. Risco de crescer, risco de mudar, de não mudar, de novas ideias, de não cumprir planos e orçamentos, da própria execução das tarefas cotidianas, da própria operação, de não cumprimento de prazos, de aumento de custos, de mudanças econômicas, de alterações políticas, entre muitíssimos outros. Neste artigo vamos nominar todos os riscos da atividade empresarial simplesmente como "Risco de Empreender". Pois bem, ninguém assumirá o risco de empreender se não vislumbrar uma compensação adequada, como estamos falando de empresas, a compensação é representada pelo retorno da atividade empresarial aos sócios da empresa, ou lucro. O lucro move as pessoas à atividade empreendedora.

Segundo dados da receita federal do Brasil, em 2010 a média da lucratividade líquida de todas as empresas brasileiras (havia à época aproximadamente 4,7 milhões de empresas no Brasil), independente de sua atividade, porte ou local de operação, foi de 12,4% de sua receita bruta, isso quer dizer que a cada 100 reais que todas as empresas brasileiras receberam por conta de suas vendas, sobraram 12,4 reais aos sócios. Esse é o valor líquido médio que sobrou depois de terem sido pagos tributos, despesas e custos diversos. Para referência de valor, nesse mesmo ano, a massa salarial (total de salários, encargos e benefícios) representou 7,7% de toda a receita das empresas e o valor pago relativo aos tributos diretos (IR, CSLL, PIS, COFINS, IPI, INSS e outros) 7,8% da mesma base. No ano de 2012, informação mais recente disponibilizada pela receita federal, a massa salarial representou 9,6% da receita bruta de todas as empresas brasileiras e os tributos 8,2%  enquanto a lucratividade dos sócios foi de 5%. Detalhe importante: Houve incremento de receitas na ordem de 14%. Isso quer dizer que as empresas faturaram mais, houve aumento mais que proporcional dos salários e tributos enquanto diminuiu significativamente o lucro dos empresários.

Se essa análise for feita por segmento empresarial pode-se verificar efeitos mais intensificados. Nas indústrias de transformação, por exemplo, a lucratividade média caiu de 7,5% em 2010 para meros 2,6% em 2012. Apesar de os últimos dados disponibilizados pela Receita Federal serem de 2012, sabemos que 2013 e 2014 não contribuíram para melhora desse quadro, muito pelo contrário. A conta não está fechando, há algo de muito errado nessa equação.

Os empresários assumem os riscos e responsabilidades de uma empresa. Desenvolvem as atividades, trabalham, assumem compromissos, pagam as contas da empresa, pagam os salários aos funcionários, pagam os impostos ao governo e deveriam obtém sua justa recompensa por terem assumido o Risco de Empreender. Ocorre que para que assumam os riscos de uma atividade empresarial e efetivamente  empreendam, é preciso que a recompensa (leia-se lucro líquido) compense o esforço do trabalho, dos riscos e responsabilidades assumidos, caso contrário não há estímulo para empreender, para investir. A atividade empresarial não se sustenta dessa maneira.

Pois bem, quando a grande maioria dos empresários deixa de investir, é porque entendem que não é compensador o investimento. Empresários sempre querem investir, ficam procurando oportunidades, mercados e momentos para fazerem isso. Só não o fazem quando não podem fazer, por qualquer motivo, ou quando não compensa. No Brasil de hoje, infelizmente não está compensando investir. E parece que o próprio governo não percebe isso, ou pelo menos faz que não percebe.

O investimento empresarial acontece quando as condições para se investir são propícias. No caso Brasileiro há que haver uma interrupção no aumento contínuo de impostos pagos, nas condições de segurança jurídica (leia-se mudanças contínuas de regras tributárias e de contratos) e também nos incrementos de salários quando não fundamentados em ganhos efetivos de produtividade, caso contrário o Brasil será um país de empresas anãs, subnutridas e de uma horda de vendedores de rua.

Por fim, termino o presente artigo com os mandamentos do progresso escrito por volta dos idos de 1860, por Abraham Lincoln, 16º. Presidente dos Estados Unidos, em meio a uma guerra e a uma das maiores crises internas que aquele país já passou. Estou certo que sua visão e princípios, resumidos abaixo, foram fundamentais para que aquele país superasse sua crise. Talvez nossos governantes e povo possam se referenciar em um exemplo bem sucedido que realmente trouxe benefícios à toda população norte americana:

1-     Não criarás a prosperidade se não estimulares a poupança.

2-     Não fortalecerá os fracos se enfraqueceres os fortes.

3-     Não ajudará os assalariados se arruinares aquele que o paga.

4-     Não estimularás a fraternidade humana se alimentares o ódio de  classes.

5-     Não ajudarás os pobres se eliminares os ricos.

6-     Não poderá criar estabilidade permanente baseado em dinheiro emprestado.

7-     Não evitarás dificuldades se gastares mais do que ganha.

8-     Não fortalecerás a dignidade humana se subtraíres ao homem a iniciativa e a liberdade.

9-     Não poderás ajudar aos homens de maneira permanente se fizeres por eles aquilo que eles podem e devem fazer por si próprios.

Marco A Militelli (Tramela F86) Eng. Agrônomo, é consultor de empresas há mais de 30 anos e diretor-presidente da MILITELLI Business Consulting. Especialista em estratégia e gestão empresarial, projetos e processos para modelagem e estruturação de negócios, reestruturação, planejamento e expansão empresarial, franchising, licenciamento, processos de fusão, cisão, incorporação e aquisição de empresas. É Ex Morador da Republica Coração de Mãe
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