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Aprendendo com uma Semente de Milho (Zilmar Ziller Marcos F55)
22/09/2015 - Por zilmar ziller marcosAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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buy premarin online without prescription hk.onkyo.comEu caminhava por uma rua na beirada da cidade, rua não calçada com poucas casas simples e uma grande área de um chão duro e seco porque a água da chuva não penetrava. Era um terreno vazio, não só de casas e gente, mas de plantas, nada nascendo ali.
Olhando aquele pequeno deserto veio-me
à lembrança a parábola do semeador (Mateus 13:1-9; 20-21, e 23), a qual conta
de um semeador que lançou as sementes e algumas caíram à beira do caminho ou
sobre pedras e não germinaram, e outras caíram entre espinhos que as sufocaram.
Enfim outra parte caiu sobre terra boa e germinou e deu frutos.
Revendo mentalmente a parábola,
comparei-a com a mensagem sobre o significado completo de Fertilidade e
Produtividade, que ainda está por cair em terra boa para dar frutos.
E por que razão se o próprio
significado dessas palavras bastaria para o entendimento? Considere, como se
deve, Fertilidade como uma qualidade, a qualidade de um ambiente ter as
condições necessárias para que o germe se desenvolva e cresça até sua
plenitude, seja esse germe uma idéia, um óvulo ou uma semente de milho: uma
idéia num cérebro fértil, um óvulo num útero fértil ou uma semente num solo
fértil.
E, paralelamente, considere
Produtividade como uma qualidade do que ou quem, produz. No caso de produções
agrícolas, seja alimentos, fibras ou material de abrigo, não é o solo que
produz, nem tão pouco a planta, a chuva, o sol ou os gases da atmosfera. A
qualidade é do sistema de produção, composto de: solo (fertilidade), ambiente
externo (sol, atmosfera e chuva) e semente (potencial genético). Cada
componente tem sua própria constituição e participa para que, da ação conjunta dos
três, resulte um produto. Essa qualidade, considerada em relação a uma
referência convencionada (kg/há, por exemplo) tem a denominação de
Produtividade.
Enquanto assim pensava vi, ali sobre o
chão daquele terreno por onde eu andava meditando, uma semente de milho.
Chamou-me a atenção pela sua aparência sadia e pelo contraste com aquele chão
duro e seco. Deve ter sido isso que me colocou como num transe, pois ouvi um
lamento vindo da pequena semente.
- “Haverá alguém que me ajude?”
Abaixei-me junto à semente
para melhor ouvÍ-la e disse:
- “Em que poderei ajudá-la?"
- “O senhor parece ser um homem de bons
sentimentos. Poderia, por favor, abrir uma pequena cova aí no chão? Não muito profunda,
o suficiente para me esconder do sol e de algum pássaro faminto. Depois, peço
que me coloque dentro dela e me cubra com a mesma terra que cavou”.
Fiz o que a semente me pediu e fiquei
observando, agora já me sentindo completamente envolvido por aquele momento
mágico.
- “Sinto que vou morrer”, disse a
semente, “assim seria melhor ter me deixado morrer ao sol e não nesta
escuridão”.
- “O que mais posso fazer”? perguntei,
“quero ajudar, não sou semeador, mas posso aprender. Diga-me o que precisa e
farei o possível ao meu alcance”.
- “Obrigado. Se me ajudar mesmo,
poderei cumprir o meu destino, a razão da minha existência. Se o senhor me
ajudar, no final eu lhe contarei. Para começar, eu preciso de água. Não demais,
por enquanto apenas o suficiente para despertar o embrião que carrego em mim.”
Deve ter sido a minha demonstração de
amor pela semente e pronta disposição em servir, que criou um novo momento
mágico colocando em minha mão uma varinha de condão.
Instintivamente, como se vara de condão
não fosse novidade para mim, toquei a terra solta sobre a cova e disse:
-"Haja água que satisfaça o desejo
da semente!”.
Imediatamente, assim mesmo, como num
passe de mágica, a terra molhou-se envolvendo a semente e a terra ao seu redor.
Mas, em vez de um muito
obrigado a semente reclamou:
-“Água fria? Assim não adianta. O
senhor não sabe, mas, se a temperatura estiver abaixo de 12º C meu germe não
cresce, eu não germino, se assim me entender melhor. Eu preciso de calor e água
para que minhas enzimas atuem nos meus carboidratos para gerar energia e
liberar nutrientes para multiplicar as células do embrião”
Fui acionar minha varinha de
condão quando resolvi perguntar:
-“Que tal se eu aquecer a água a 13
graus?”
-“Menos mal, mas já que vai aquecer ponha
a 25, por favor. E faça com que não só a água se aqueça, mas todo o ambiente ao
meu redor.”
Já mais a vontade com meu novo poder
agitei a varinha no ar e dei o comando para atender o desejo da semente.
-“Senhor!”, exclamou a semente, “está
faltando algo, percebo a água aí fora, mas tenho dificuldade em absorvê-la; e
preciso dela para inchar e romper a película que me envolve. Além disso, o
embrião precisa que a água passe pela membrana de suas células. Ah! sabe o que
está faltando? Oxigênio!”
“É p’ra já, dona semente. Que venha
oxigênio livre da atmosfera para a semente.”
Mas, subitamente, me ocorreu que se ela
já sabia do que precisava porque não pediu os três de uma vez, água, calor e oxigênio?
Interrogada, a semente disse-me algo
que ainda me faz pensar, isto é, como pedir três ou mais coisas
simultaneamente? Tem que ser uma de cada vez. Poderia, com a minha varinha, dar
as três de uma vez, mas pedir ou explicar tinha que ser uma de cada vez.
Fiquei observando bem de perto, pois o
poder de minha vara de condão fez com que eu visse tudo como se a terra fosse
transparente. Vi as células se multiplicando e aparecer a radícula e o
hipocótilo. O primórdio do sistema radicular, com seus hormônios sensíveis à
gravidade começou a curvar-se para baixo enquanto que o hipocótilo, um fino
canudo formado pelas primeiras folhas enroladas já tomava a posição ereta.
De repente, tudo parou novamente.
-“Que foi agora, semente?”
-“É essa terra que ainda está muito
dura e os poros, de tão rijos, não permitem que meus prolongamentos avancem e
aumentem de volume. É preciso que o Senhor dê um comando para que as partículas
da terra possam ser afastadas para dar passagem. Quero manter contato com elas,
mas é preciso que elas cedam a passagem. Falando de um modo mais científico,
vou dizer que a terra precisa se tornar permeável à radícula que já começa a
emitir ramificações, e ao hipocótilo.”
Desta vez tive que caprichar no meu
comando com a varinha, porque o que a semente pedia não era simplesmente para
dar passagem, precisava também manter o contato com as partículas. Mais tarde
eu mesmo compreenderia que estava nessa exigência o segredo da sustentação das
plantas.
O comando foi dado, a varinha mágica
obedeceu e, em seguida, novo grito da semente de milho. Desta vez, soando como
um grito de sofrimento:
-“Ai, ai. ai, minhas células estão
sendo queimadas vivas”.
-“Como!?”, gritei também, “não há fogo
aqui!”.
-“É essa acidez elevada que está
afetando a membrana de minhas células. Sei que vocês fazem correção do pH para
tornar solúveis e aproveitáveis os nutrientes, mas esquecem-se que a acidez, no
contato da nossa membrana celular com o filme de água e as superfícies das
partículas, é de vital importância.”
-“Muito bem, compreendi. Não havia
pensado nesse detalhe; alias é um detalhe”.
Apressei-me a acionar minha varinha de
condão para elevar o pH no ambiente em que estava e semente de milho, agora já
começando a tomar a forma e aparência de uma minúscula planta.
O que assisti em seguida foi
maravilhoso e compensou os momentos de aflição anteriores. A radícula era agora
o sistema radicular em formação, emitindo ramificações e aprofundando-se quase
na velocidade de um ponteiro de minutos. O pequenino caule com o formato de um
cilindro foi abrindo caminho para cima até romper a superfície e aparecer, já
com suas folhas verdes-claro começando a se desenrolar.
Pensei que minha boa ação estava
completa. Preparava-me para despedir-me da semente quando ela, desta vez não
gritou, disse com calma, mas com firmeza;
-“Está tudo bem, por enquanto. O que o senhor
nos deu vai permanecer. Entretanto estou começando a sentir falta de alimento.
As reservas que trouxe comigo na forma de amido, proteínas, óleo e uma
quantidade de elementos químicos está acabando. Preciso de um reforço. Se o senhor
tivesse me colocado em uma terra mais rica em nutrientes, poderia até dispensar
ajuda daqui para frente. Mas, nesta aqui preciso de um suplemento de
nutrientes”.
“Não se preocupe, vou até ali e já
volto com algumas gramas de superfosfato, cloreto de potássio e algum adubo que
contenha nitrogênio, cálcio e enxofre.”
Nesse momento senti-me como se
estivesse acordando de um sonho. Olhei para minhas mãos esperando ver a varinha
de condão para guardar de lembrança e não vi nada. Olhei para o chão e vi
apenas aquela semente de milho que havia provocado meu devaneio.
Apanhei a semente e levei-a comigo para
plantar em uma boa terra como está escrito na parábola do semeador.
Não fiquei com a vara de condão, mas fiquei
com a lição que a semente de milho me ensinou. Ficou muito claro para mim que
para que aquela cova onde eu a plantei tivesse a fertilidade necessária ou em
outras palavras fosse considerada fértil, foi necessário satisfazer seis
condições, na ordem em que a semente me ensinou.
Guardarei comigo para sempre este
aforismo que resume a lição:
“AS CONDIÇÕES QUE COMPÕEM A FERTILIDADE
DE UM SOLO SÃO, NESTA ORDEM: ÁGUA, CALOR, OXIGÊNIO, PERMEABILIDADE ÀS RAÍZES,
pH NO AMBIENTE PRÓXIMO ÀS RAIZES E DISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES NO AMBIENTE
PRÓXIMO ÀS RAÍZES. NÃO SE TRATA DE UMA ORDEM DE IMPORTÂNCIA, MAS DA IMPORTÂNCIA
DESTA ORDEM”.
Zilmar Ziller Marcos
Professor Titular Aposentado
Associação dos Docentes Aposentados da
ESALQ-ADAE
Piracicaba 21 de Abril de 2011