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Areião (Pinduca F68)
21/10/2015 - Por marcio joão scaléaAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

Passado o fim de semana na praia do Mosqueiro, litoral do
Pará, o grupo de viajantes se defrontou com um problema novo para eles, mas
muito comum naquela época : as rodovias abertas e asfaltadas que existiam
apenas no papel dos mapas. Como era o caso da BR316, que nos guias rodoviários
comprados
Na parada em Castanhal para abastecimento e informações, os
universitários descobriram perplexos que o caminho para São Luiz teria que ser
feito a partir de Imperatriz, quase 500 quilometros ao sul, na Belém/Brasília.
Ou de barco, partindo de Belém. E foi para Imperatriz que eles rumaram, levando
a informação de que saindo daquela cidade existia um caminho que levava a Barra
do Corda e de lá para São Luiz. Era estrada ruim, mas que dava passagem naquela
época do ano, na seca.
Em Imperatriz, abandonados os mapas e planos, combustível
comprado a duras penas, pois estava escasso na região, foram se informar de
como pegar a tal estrada. E foi aí que começou o calvário, pois foram
claramente desaconselhados de seguir por tal caminho : foram alertados para os
buracos, as valetas, os rios sem ponte, a presença de índios nem sempre
amistosos, o emaranhado de caminhos que se cruzavam pelo cerrado formando um
labirinto, mas principalmente foram alertados para os areiões.
- Só louco pra ir por lá com essa kombi, não dá passagem!
Mas a outra alternativa seria voltar a Brasília para depois
subir tudo de novo até o nordeste, o que não cabia nos planos dos viajantes,
que às três horas da tarde, calor sufocante, ar seco de julho, decidiram entrar
no "caminho" que levava a Montes Altos e Grajaú.
Nem bem meio quilometro andado fora da Belém/Brasília
apareceu o primeiro areião : uns sessenta metros, seco, fofo, facão alto pelo
transito de caminhões, cercas dos dois lados, não havia por onde escapar. Nem
por onde manobrar a kombi para voltar, era ir ou ir. E se arriscaram, mas
ficaram presos na areia macia e escaldante, perto do meio do trecho ruim.
Apeados, a avaliação não era boa : ainda faltavam uns trinta metros e as duas
rodas giravam
Toda atolada ou encravada é desagradável, pelo tempo
perdido, pela vergonha de não conseguir passar, pelo esforço e desgaste pessoal
e do carro, mas principalmente pelo fato de ter-se que depender de outros para
sair da situação, e foi com um pé atrás que o grupo se aproximou dos recém
chegados para pedir auxilio : seriam bem recebidos? Mas os maranhenses
mostraram-se de uma cordialidade, boa vontade e companheirismo únicos :
- Estão encravados, é? De kombi? Tem problema não, é carro
maneiro, nós tiramos ele no braço!
E assim foi, e em menos de dez minutos, com doze braços a
mais, o areião foi vencido. Garrafão de cachaça circulando como um cachimbo da
paz, amizade selada e declarada :
- O trecho está ruim. Nós vamos na frente, sabemos o melhor
atalho. Se encravarem de novo, nós rebocamos, até Montes Altos vocês estão
garantidos.
Alem da postura amistosa, o que os impressionou muito no
maranhense, foi a forma de se expressar : dicção perfeita, frases completas,
com boa concordância, mesmo num grupo de peões, gente semi analfabeta.
A chegada
- O maior risco é um jegue vir se coçar e acabar quebrando o
espelho da kombi...