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As duas faces do Agronegócio Brasileiro (Xyko; F83)

01/04/2021 - Por helio fonseca
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Tentaremos entender como é formado o Agronegócio Brasileiro. Poderíamos subdividi-lo em duas grandes áreas: uma formada pelos produtores de grãos (soja, milho, trigo e outros cereais), produtores de cana de açúcar, café, pecuária de corte, e por outro lado produtores de flores, hortaliças e frutas, bem como a pecuária leiteira. Neste exemplo separamos a pecuária de corte da pecuária leiteira pois as características destes dois tipos de negócio são distintas: o primeiro se assemelha mais aos produtores de grãos e o segundo aos produtores de hortifruti. Assim o Agronegócio Brasileiro, formado por diversos elos da Cadeia de Suprimentos, desde produtores de sementes, indústria de máquinas agricolas, fertilizantes e defensivos, produtores rurais, pecuaristas, agroindústrias, cooperativas, representantes comerciais, atacadistas, varejistas até chegarmos no consumidor final. Quando assistimos na mídia o tema Agronegócio Brasileiro fazemos uma associação direta com o primeiro grupo, recorde de exportações, Brasil como produtor mundial de diversos itens agrícolas, devido ao grande esforço em pesquisas, investimentos em tecnología, grande dedicação dos produtores rurais, técnicos, veterinários, zootecnistas e agrônomos que sempre deram suporte a essa área. Quando olhamos para o segundo grupo do agronegócio observamos que existem alguns produtores de flores, frutas e hortaliças que possuem boa tecnologia, capacidade produtiva e boa produtividade no campo, mas uma grande parte desta "turma" ainda carece de um bom suporte no campo, principalmente a novas tecnologias de produção, orientações básicas de plantio e condução da cultura, tecnologias em colheita, armazenagem e distribuição. Refiro me principalmente a pequenos e médios produtores rurais, ao pessoal da agricultura familiar e outros grupos que estão em busca de novas alternativas para atender a mercados consumidores que surgem devido a atual mudança de conceitos que estamos passando em função da pandemia. Portanto a necessidade de novas políticas públicas focadas nesta área produtiva é fundamental para fortalecermos ainda mais o agronegócio no Brasil, como por exemplo, incentivar e incrementar a extensão rural em todo país, liberação de maior volume de crédito para pequenos e médios agricultores, incentivar a criação de mini cooperativas regionais focadas em produtos locais.

A pergunta que vem à tona seria: para que temos que avançar mais com a área de flores e hortifruti se já estamos indo muito bem com produção de grãos e demais negócios? Vamos parar um pouco para fazer uma reflexão sobre a agricultura brasileira de uma forma geral e para isso faremos um comparativo entre a agricultura Brasileira com a agricultura dos Países Baixos (Holanda). O Brasil possui uma área de aproximadamente 8,5 milhões de km2 com uma população de 211 milhões de acordo com o último senso. Os Países Baixos têm área aproximada de 42 mil km2 e população de 17 milhões de habitantes. Se compararmos temos uma relação de 200 vezes em área a favor do Brasil e 12 vezes em  população, porém se analisarmos as exportações vamos nos surpreender com os resultados: dados de exportação agrícola de 2017 mostram que os Países Baixos exportaram 112 bilhões de dólares enquanto o Brasil exportou 88 bilhões de dólares no agronegócio. Analisando com maior porfundidade vamos perceber que os Países Baixos é um forte exportador mundial de flores e produtos hortifruti, demonstrando que com uma área bem menor (duzentas vezes) possui um saldo de exportação maior que o Brasil. O que explica essa grande diferença é o valor agregado de produtos hortifruti e flores comparado a produção de grãos e outras commodities. Não estou afirmando que estamos caminhando na direção errada, vamos entender bem que temos um trabalho muito bem elaborado ao longo de anos, buscando aumento de produtividade e novas tecnologias para nossas commodities agrícolas, mas  que poderemos ter uma maior sucesso no agronegócio se buscarmos exemplos como o dos Países Baixos que investiram pesado em tecnologia para flores e hortifruti, produtos estes de maior valor agregado. Temos plena capacidade para superar este desafio, temos excelentes universidades, técnicos, área agricultável, tecnologia em produção em estufas dentre outros fatores. Já fizemos a parte mais difícil, que tal agora focarmos um pouco mais nestes produtos de maior valor agregado? Óbvio que sem tirar o pé do acelerador na produção de commodities. #Fica a dica

 

Hélio Fonseca

Engenheiro Agrônomo e consultor nas áreas de Logística e Supply Chain.

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