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AS MORTES, A MORTE
12/02/2017 - Por marcio joão scaléaAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
amlodipin krka
amlodipin krkaMorremos um
pouco a cada dia. Estas virtuais mortes diárias se intercalam com outras
mortes, reais. Como a morte da Nonna, do amigo afogado, do Pai, do Compadre, do
filho do João Coruja, do Bérgson, do AKN, dos comandantes Granuzzo, Peixoto e
Roberto, do Tonicão, da Mãe, do Cobrinha, da Nara, da Ellis e da Cássia Eller, do
Renato Russo, do Catarina, da Irmã e do Irmão, do Cunhado e da Cunhada, do Sobrinho,
do Sogro, do Gilberto Borges, do Seu Lú, do Mestre Pastinha, do Turcão, da Fada,
do Gustavo, do Felisberto, do Saroba, do Shoji, da Toninha, do Carlão, da Tia
Olímpia, da Vera, do Irineu, do Ramonzinho, do Chico Xavier. O Velho começava a
ver que havia morte se relacionando com tudo na vida. Cada momento, cada
acontecimento o levava a refletir sobre a morte. Mortes inesperadas, mortes há
muito esperadas, mortes inexoráveis e outras nem tanto, qual seria a explicação
para certas mortes?
Como a do
garoto que o Pesquisador atropelou dando marcha a ré num posto de gasolina em
Cuiabá : por que aquele garoto? Por que o Pesquisador? Por que aquele posto?
Por que a Vó não soltou a mão do garoto? Por que os frentistas, um de cada lado
do carro não viram e não avisaram à Vó ou ao Pesquisador?
Ele achava que
as respostas só viriam com a Morte, quando talvez pudesse entender um pouco de
tudo que o rodeava. Como por exemplo certo sentimento de auto destruição que ele
via na humanidade, cada dia mais evidente e mais exacerbado : o ódio levando à
morte, a alegria levando à morte, os prazeres da bebida, das comidas, do
cigarro, das drogas e mesmo do amor levando à morte, um pouco a cada dia,
muitos a cada dia. A maneira de dirigir, a maneira de trabalhar, as maneiras de
se relacionar, tudo levando à morte.
E a Morte para
o Velho era a oportunidade de entender, de se entender, de tirar dúvidas. Mas
não seria tudo tão e só mórbido. O Velho também achava que a Morte seria uma
experiência incrível, oportunidade para reencontros : imaginava sentar-se ao
lado de Guimarães Rosa, à sombra de um buriti e conversar, longa e calmamente
sobre o cerrado, os Gerais. Imaginava ver lado a lado Janis Joplin, Cássia
Eller e Ellis Regina, dando uma canja. Imaginava Mestre Pastinha ensinando
capoeira a Ayrton Senna, com Tom Jobim e Sidnei Miller no berimbau e atabaque.
Imaginava tanto que chegava a se surpreender desejando a Morte...para aproveitar
a eternidade.
Ou para fugir
da realidade?