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Carta Conjuntura - O cocho meio cheio e o Funrural

24/01/2018 - Por alcides de moura torres junior
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Antes de receber a primeira pedrada em função do ponto de vista que apresentarei neste texto, deixo bem claro um ponto, não é fácil encontrar quem tenha mais desprezo que eu pela anarquia governamental e social na qual o país está imerso. Enquanto elaboramos estas contas, certamente há inúmeras falcatruas sendo arquitetadas nas mais diversas esferas da sociedade. 


Portanto, não creio que impostos sobre o desempenho econômico sejam ou serão a solução enquanto o dinheiro público não for administrado com retidão à toda prova e, consequentemente, não houver crise de confiança com a gestão da coisa pública. Dito isto, para não ter meu objetivo mal interpretado, vamos aos cálculos. 


Impacto


Em uma atividade onde a lucratividade dificilmente passa de 20%, qualquer diminuição de receita afeta fortemente o resultado. 


Esta análise foi feita no primeiro semestre de 2017, imediatamente após à volta do Funrural, mostrando o impacto que a taxa de 2,3% sobre a receita exercia sobre lucro, em diferentes níveis de lucratividade. 


A lucratividade demonstra o quanto da receita efetivamente é lucro. Por exemplo, com 10% de lucratividade, uma empresa ou uma fazenda que fatura R$1 milhão está apurando R$100 mil de lucro.


Se da receita são tirados 2,3% (R$23mil), isso reduziria o lucro em 23%. Esta foi a conta apresentada à época. 


Apresentamos aqui o cálculo com a nova alíquota, de 1,5%, já considerando a contribuição para o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e RAT (Riscos Ambientais do Trabalho).


Figura 1.
Impacto do Funrural sobre o lucro, em diferentes níveis de lucratividade.
Fonte: Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br


Observe que quanto maior a lucratividade, menor é o impacto, de ambas as alíquotas, sobre o resultado. 


A figura ilustra uma das diversas vantagens do aumento da eficiência, na pecuária e em qualquer atividade. Quanto mais lucro, mais "gordura" antes de chegar ao prejuízo.


Lucratividades entre 10% e 20% são relativamente comuns na pecuária de corte, mas a amplitude do indicador é grande e ainda não ilustramos o aumento do prejuízo de fazendas que já estão no vermelho.


Sem hipocrisia, sem o Funrural seria melhor para o produtor (como antes do final de março de 2017), mas a redução da alíquota já é melhor do que o que tínhamos nos últimos quase dez meses.


A diferença


Para quem já tinha considerado o "2,3%" nas contas e assumido mais um sócio na fazenda, por que não ver o copo meio cheio e investir estes 0,8% que não serão mais cobrados?


Em um boi com 18@, cujo preço é de R$150,00/@ (para descontar), temos uma redução de R$21,17 por cabeça no imposto (0,8% = 2,3% - 1,5%). Isto equivale a dois anos e pouco de custo com sanidade, ou pouco mais de seis meses de custo com mão de obra de uma recria/engorda.


Ou a vacinação mais de vinte cabeças contra clostridioses. Em uma ocorrência sutil de botulismo, três animais mortos pagariam o Funrural de duzentas cabeças (3 de 200 = 1,5%).


Com mais de R$1,00 por arroba (R$21,17/18@ = R$1,18), é possível comprar seguros de preços (puts) para sair do risco de mercado, ou ao menos se garantir contra quedas maiores.


Imposto na nossa realidade não é nada bom, não há o que discutir. No entanto, foque na produção e não fique esperando a próxima pancada, pois 2017 nos deixou bem claro que elas vêm.

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