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Certezas em meio as incertezas (Scot, F76)

24/04/2017 - Por alcides de moura torres junior
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Na primeira semana de abril ocorreu o Encontro de Recriadores e Confinamento da Scot Consultoria em Ribeirão Preto, terminando com um dia de campo em Barretos-SP.


Notícias relativas à cadeia produtiva de proteínas animais trouxeram incertezas ao mercado do boi gordo e foram recorrentes nas vésperas e durante o evento. Em função disso foram debatidos pontos importantes relacionados a isso, com destaque para a necessidade de intensificação e geração de margens. 


Como propusemos neste mesmo espaço há pouco mais de um mês (confira a carta boi de março clicando neste link), garantir preços de venda é fundamental. 


Quem garantiu preços de venda para o confinamento no segundo semestre, em meio a toda esta turbulência (Carne Fraca, volta do ICMS em São Paulo, Funrural), viu suas margens se ampliarem, com preços da reposição cedendo e milho também, impactado pela expectativa de menor consumo, produção maior e estoques.


Mas um ponto fundamental é saber o quanto custa a produção, com pelo menos uma divisão básica dos componentes deste custo. 


Com base nisto, fica fácil entender que mesmo usando mais insumos, com mais custos variáveis diretos, o cenário pode ser mais lucrativo, além de permitir análise do sistema.


O caro que sai barato


Não vamos apresentar simulações de custos para evitar a tentação que o produtor possui de assumi-los para a sua realidade. Custos simulados são importantes para avaliar impactos de ajustes na produção e para se ter ideia das estratégias a serem seguidas, mas não indicam o seu lucro. Se indicarem, é coincidência. 


Diferentes abordagens das apresentações no Encontro apontaram na mesma direção, do aumento da produtividade, como forma de melhorar o desempenho. 


Por exemplo, o aumento do uso de suplementação, embora traga mais desembolso ao sistema, no final das contas reduz a idade ao abate. Com menos tempo de fazenda, o produtor tem menos custos com pastagem, com depreciações, com administração, entre outros. 


E o principal efeito da produtividade é o incremento da produção. Ou seja, há redução de itens de custo por arroba (fixos e variáveis indiretos), aumento de outros (variáveis diretos), mas principalmente aumenta a receita, com mais arrobas vendidas. 


O barato que sai caro


A nutrição tem um peso importante, mas dilui outros custos, por impactar o tempo de fazenda, o ganho de peso e as arrobas vendidas.


Já a sanidade funciona de forma diferente, ela está relacionada a um seguro, representa pouco no custo de produção, mas quando sua falta é notada, é tarde. 


Em estudo de surtos de botulismo em Mato Grosso do Sul e em São Paulo foi observada mortalidade média de 20,1%. Como exemplo, houve casos de 2,5 mil cabeças mortas em um rebanho de sete mil cabeças. A maior mortalidade observada no estado foi de 52,5% (DUTRA et al., 2001).


Com uma dose de vacina contra clostridioses (botulismo é uma delas) custando menos de R$1,00, percebemos como a vacinação pode ser barata.


A questão é que alguns anos sem intempéries, seja no mercado ou na produção, fazem parecer distante a chance de um problema maior, aí ele ocorre. 


O mercado é importante, mas não se tem controle sobre ele


Os acontecimentos recentes, que abalaram profundamente o comportamento do mercado, deixaram ainda mais claro como, de uma hora para a outra o cenário de preços muda. 


Isso sem contar a concentração da indústria, poder de mercado e cenário de demanda interna e externa, dentre outros fatores que exercem pressão sobre as cotações. 


Aqui entra a importância das travas de preços, que podem ser feitas, por exemplo, através da compra de opções.


Há o contrato a termo de preço fixo, mas em geral os frigoríficos não estão usando esta forma de comercialização atualmente. De toda forma, há a possibilidade da compra de opções de venda. 


Nos últimos dias o mercado do boi gordo tem trabalhado em ambiente mais firme. Os frigoríficos possuem programações, em geral, curtas e ocorrem preços acima da referência. 


É possível que observemos um mercado pressionado nas próximas semanas, com a entrega das boiadas de final de safra, mas o cenário está mais firme. 


No curto prazo teremos dois finais de semana prolongados, que poderão ter efeito positivo na demanda doméstica e alguma redução na venda de boiadas no curto prazo.


Um cenário de preços mais firmes pode baratear a compra de seguros (opções de venda, puts). Dependendo do produtor, da disponibilidade de grãos e reposição, pode ser um momento para defender parte da produção. Faça contas.


Voltando ao fato de que o mercado tem por característica a incerteza, mesmo quando acompanhado de perto, o produtor deve garantir preços e focar na produção.


Por mais óbvio que possa parecer, e na verdade é, quanto maior o lucro, mais espaço há para aguentar o coice de oscilações bruscas de mercado. 


Considerações finais


Calcule seus custos e saiba como eles estão distribuídos, não apenas os desembolsos, mas os custos totais (com depreciações).


Avalie o que será economizado e o que será perdido com determinada redução de desembolsos, seja em desempenho, por aumento de risco sanitário e de mercado, entre outros. Decida pensando no todo.


Trave preços, quando estiverem interessantes. Se quiser manter a torcida por preços ou estiver confiante com altas, trave valores mínimos.


Quanto maior a margem, mais gordura há para aguentar solavancos do mercado ou sustos na própria realidade da fazenda. Foque em eficiência.


Refêrencia citada:


Iveraldo S. Dutra, Jürgen Döbereiner, Ivan V. Rosa, Luiz A.A. Souza, Mário Nonato 2001. Surtos de botulismo em bovinos no Brasil associados à ingestão de água contaminada. Pesquisa Veterinária Brasileira.

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