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Como Serão as "Estrampulias" em 2017? (Sifu, F91)
20/02/2017 - Por marcos fava nevesAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Como Serão as “Estrampulias” em 2017?
(Minha Leitura
dos Fatos e Impactos do Agro em Fevereiro de 2017)
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Começamos a carta
de fevereiro falando de Donald Trump, que será fonte de muitas novidades e
riscos ao longo do ano, principalmente no mercado de grãos, carnes e
biocombustíveis, que nos afetam muito. Já teve efeito na saída dos EUA do
acordo Transpacífico, na renegociação do NAFTA, entre outras ações;
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Com os prováveis juros
mais altos nos EUA é de se esperar diminuírem um pouco a volatilidade das
commodities e fortalecer o dólar. Mas mesmo com a subida dos juros, estes
permanecerão ainda relativamente baixos, o que deve diminuir o impacto no câmbio,
e o estimulo à saída de recursos do Brasil com desvalorização do Real.
Acreditamos anteriormente que os efeitos poderiam ser mais fortes, mas a
valorização recente do Real deixa isto confuso;
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No caso da
agricultura, vale explorarmos um pouco mais os fatos e prováveis impactos das
“estrampulias”. Lembremos que os EUA são grandes vendedores das commodities que
concorrem diretamente conosco. USDA estima a safra americana de soja em 117,21
milhões de toneladas e 50% disto é exportado, 24% das exportações de milho, ao
redor de 10% da soja e cerca de 30% dos suínos dos EUA vão para o México. A
China comprou US$ 18 bilhões em commodities agrícolas dos EUA em 15/16,
portanto qualquer problema pode afetar estas relações e os países podem dar
preferência à expansão dos volumes comprados do Brasil, tanto em grãos como em
carnes;
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No caso do milho,
as incertezas mundiais são maiores, pois entra o preço do petróleo e a política
de biocombustíveis, que o novo governo Trump adiou para março a efetivação dos
volumes previstos de uso de etanol de milho e outros biocombustíveis (15
bilhões de galões de convencionais como o milho e 4,28 bilhões de galões dos
avançados como a cana), lembrando que cerca de 35% do milho dos EUA vai para
etanol, e no caso do biodiesel, é o óleo de soja o mais importante;
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Fechando o assunto
Trump, a princípio temos que observar no agro a questão dos acordos comerciais
e a questão dos biocombustíveis. Minha aposta hoje é que os fatos que ele
criará trarão impactos positivos ao agro brasileiro. Quem sabe depois de George
W. Bush com a política de etanol de milho, do casal Kirchner e as “retenciones”
que tanto prejudicaram a agricultura argentina, possamos dar ao Trump o terceiro
prêmio Nobel da agricultura brasileira;
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Além destas novas
incertezas, as baixas margens (até negativas) devido ao excesso de produção
estão atingindo a agricultura dos EUA, com elevação do endividamento e estímulo
a alguns deixarem a atividade (a renda dos agricultores deve cair 9% neste ano
de acordo com o USDA), resultando em mais concentração. Terão menos de 2
milhões de unidades produtoras em breve e os EUA tem hoje menos da metade da
participação no mercado mundial de grãos que detinham há 15 anos;
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A situação da soja
(está melhor que o milho neste momento da escolha de plantio) para este ano
mostra que se a produção for grande como a esperada (estimam plantar 85 a 89
milhões de acres, um recorde, com uma produtividade esperada de 48 bushels por
acre produzindo 4.162 bilhões de bushels) e o consequente aumento dos estoques (devem
ser os maiores desde 2006/07) devido ao fato de que o acesso ao mercado
internacional estará prejudicado pelas boas produções no Brasil e na Argentina,
os preços deverão cair para uma média de US$ 9 por bushel no ano safra 2017/18;
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Continuando na arena
internacional, segundo a Agência das Nações Unidas para o Comércio e o
Desenvolvimento (Unctad), mesmo com a crise o Brasil foi o sexto destino de
Investimento Estrangeiro Direto (IED), com algo próximo a US$ 50 bilhões em
2016 (US$ 65 bilhões em 2015). Como comparação, os EUA, primeiro colocado,
atraíram simplesmente US$ 385 bilhões. O Reino Unido foi o segundo e atraiu US$
179 bilhões, ou seja, os mais ricos ficam mais ricos... O total de IED em 2016
foi de US$ 1,52 trilhão. UNCTAD espera aumento de 10% para 2017 nos
investimentos internacionais, e o Brasil promovendo reformas, passa a ser mais
atrativo, e isto exercerá influência fortalecendo o real;
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O índice de preços
da FAO/ONU em janeiro atingiu 173,8 pontos, um crescimento de mais de 2% sobre
o índice de dezembro. É o maior desde fevereiro de 2015 e está 16,4% acima do
mesmo mês no ano passado, ou seja, preços mundiais das commodities alimentares
estão melhores;
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Nova política
agrícola vem sendo desenhada na China e deve trazer importantes mudanças. A
idéia é diminuir o foco na auto-suficiência que foi o tema central na última
década e buscar mais atender a demanda do consumidor. Esta política de
auto-suficiência gerou estoques, distúrbios no mercado e ineficiências, além de
representar um alto custo à sociedade. Preços internos aos poucos se alinharão
aos preços do mercado mundial. Recursos que eram investidos para garantir a
produção serão agora direcionados para aumento da competitividade, seja com
irrigação, infra-estrutura rural e preservação/reabilitação de áreas. Mais foco
será dado na capacidade de produção sustentável. O documento ressalta a
importância e o papel do mercado internacional no atendimento da demanda
chinesa, o que significa aceitar mais importações, boa notícia ao Brasil;
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Voltando agora
nosso olhar para os fatos do Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab) publicou a quinta estimativa da produção de grãos da safra 2016/17. A
área foi de 59,5 milhões de hectares (aumento de 2,1%). Devemos produzir 219,1
milhões de toneladas, quase 4 milhões a mais que na estimativa de janeiro. Este
novo número representa aumento de 17,4% sobre 2015/16.
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Na soja a CONAB
espera 105,6 milhões de toneladas, um recorde de 58,6 milhões de toneladas de
milho na segunda safra (44,0% de crescimento em relação à 2016 ou quase 18
milhões de toneladas em 11 milhões de hectares cultivados (4,7% a mais) com
ganhos de produtividade de 38% (lembremos que na safra passada a estiagem foi
cruel ao milho). Com isto teremos nesta safra 16/17 mais de 87 milhões de
toneladas de milho, tirando o sofrimento de avicultores e suinocultores;
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O Ministério da
Agricultura revisou o valor bruto da produção para de R$ 364,5 bilhões em 2017
(crescimento de 5% sobre 2016). Já quando se incluem as atividades pecuárias o
total alcançará R$ 545,9 bilhões (18,3% a mais). Quem puxou o valor foi o
milho, soja, arroz, algodão e o feijão. Somente a soja deve gerar uma renda de R$
123,3 bilhões (+3,1%). Na cana-de-açúcar
o crescimento será de 3%, indo a R$ 54,4 bilhões;
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Porém, temos que
observar fatos recentes como o excesso de chuvas em muitas regiões prejudicando
a colheita e trazendo perdas por inundações, como as vistas em Campo Novo dos
Parecis e outras cidades. Resta torcer por poucos impactos;
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No fechamento da
nossa leitura deste mês, a soja estava US$ 10,52/bushel ou R$ 70 a saca e o
milho US$ 3,74 bushel, ou R$ 35 a saca.
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O dólar deu um
susto nesta quinzena, mas aparentemente os que previram abaixo de R$ 3,00
erraram. Temos mais margem para abaixar os juros no Brasil e com isto
desvalorizar a moeda. Espero que isto seja feito logo, toda a economia e o país
agradecem!
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Enfim, a leitura de
fevereiro está com um conjunto de notícias mais favoráveis ao agro. Também
estou gostando do novo ritmo imposto pelo Congresso e Senado na aprovação das
importantes reformas que o Brasil precisa. Uma parte da economia começa a dar
sinais de vida, e a agenda política das reformas caminha, mesmo com os
percalços da lava-jato.
Marcos Fava Neves (Sifu, F91) é Professor Titular
da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto. Em 2013 foi Professor Visitante
Internacional da Purdue University (EUA) e desde 2006 é Professor Visitante
Internacional da Universidade de Buenos Aires.