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Da Lama (Alma F97)
30/11/2015 - Por fernando de mesquita sampaioAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

Nada mais metafórico para o Brasil atual do que a imagem da enxurrada de lama
A enxurrada de lama, real ou virtual, é um tapa na cara dos
brasileiros.
Eu acredito que o Rio Doce vá se recuperar. Com a força da
vida e de homens de bem (Aliás sempre achei que as ofensas que o homem faz a
natureza são um risco não para o planeta mas para o próprio homem. A vida
sempre acha um caminho e tem todo o tempo do mundo para isso. Até o impacto de
meteoros gigantes a vida superou. A pergunta é se nossa espécie vai estar lá para
ver).
Também acredito que possa haver um futuro depois da outra
enxurrada de lama, a virtual, a que desce dos palácios.
É sim o escárnio vencendo o cinismo, como definiu a Ministra
Carmem Lúcia, ver os poderosos nus em seus pedestais a alegar que não sabiam de
nada, que aquela conta não era dele, que nunca foi amigo do fulano, que não vai
cair sozinho, que é uma conspiração de inimigos imaginários das elites à
imprensa, enquanto apunhalam-se pelas costas num stand off onde ao fim não
sobrará ninguém.
É possível às águas clarearem depois da lama?
Sim.
E quando isso acontecer, haverá imenso vácuo de quadros
competentes que possam fazer o que deve ser feito.
E o que deve ser feito?
Em primeiro lugar reestruturar o Estado. O Brasil tem
governo mas não tem Estado.
A diferença é que governo só se preocupa com a próxima
eleição. Estado funciona independente do governo, baseado em uma burocracia eficiente
e científica.
É inadmissível que as instituições públicas possam ser
aparelhadas por apadrinhamento político. É inadmissível que partidos políticos
vendam seu apoio por esse aparelhamento, cujo principal objetivo é o de transformar
cada mísera instância da máquina pública em um balcão de negócios. É inadmissível
que partidos políticos e seus detentores de cargos não façam distinção entre
interesses públicos e privados. É inadmissível também que causas justas sejam
monopolizadas por movimentos sustentados pelo governo que usa esse sustento
como arma de manobra de massas em prol de objetivos políticos.
Há um imenso potencial empreendedor e criativo do povo
brasileiro, represado pela estupidez e pelas amarras criadas pelos balcões de
negócio do poder.
Libertadas essas amarras, este potencial poderá explodir em
desenvolvimento e crescimento. Não, o governo não precisa de estatais e fundos
de pensão, não precisa controlar o crédito, nem televisões. Precisa criar
regras claras, precisa de metas, precisa de instituições sólidas, precisa de
transparência, precisa de uma imprensa livre.
Aos jovens que hoje vêem o aeroporto como a única saída para
o país, o Brasil precisará de vocês para preencher o vácuo que virá, tal como o
Rio Doce precisará de novos peixes e plantas. E o Brasil precisará de líderes
capazes de implementar essas reformas.
Fernando Sampaio (Alma F97) Diretor Executivo da ABIEC, Ex morador da Republica Lesma Lerda