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ESH ANOS 60
26/09/2016 - Por marcio joão scaléaAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
E.S.H. ANOS 60
E.S.H. para os não iniciados é a sigla formada com as iniciais das palavras inglesas Environment, Safety e Health, respectivamente Meio Ambiente, Segurança e Saúde. Essa sigla é usada para identificar não só os assuntos em si, mas também e principalmente os departamentos, diretorias e gerencias que fazem, nas empresas, a administração do meio ambiente, da segurança e da saúde. Qualquer atividade relacionada a esses três aspectos é gerida pelo grupo de funcionários de ESH.
Em outras palavras, é uma tirania, exercida em nome de ESH, pois são desenvolvidos procedimentos que devem ser rigorosamente seguidos para tudo o que é feito na empresa, qualquer que seja a área. Vai carregar um caminhão? Siga o procedimento. Vai abastecer um veículo? Siga o procedimento. Vai atravessar a rua? Siga o procedimento : i) procure a faixa de pedestres; ii)olhe para a sua esquerda e veja se está vindo algum veículo; iii)olhe para a sua direita, com a mesma finalidade do anterior; iiii)se você residir em país da Comunidade Britânica, inverta os procedimentos acima; e assim por diante...
O Velho lembra de suas atividades quando ainda Agrônomo, recém formado, nas empresas de pulverização aérea, quando seguia certas rotinas que teriam levado à loucura quem quer que tivesse a menor noção de ESH. Vale a pena relembrar uma delas.
Os aviões agrícolas trabalhando nas lavouras de trigo em
Guarapuava, no Paraná, tinham que ser abastecidos com um combustível
específico, a gasolina de aviação, só encontrada à venda no aeroporto do
Bacacheri
Às quatro da madrugada ele saia da Colônia Vitória, em uma kombi com cinco tambores vazios. Ali pelo fim da manhã chegava ao Bacacheri, onde os tambores eram enchidos. Ao sair do aeroporto ele já era, literalmente, uma bomba, pois os mil litros de gasolina, a qualquer acidente ou faísca, explodiriam. Às duas da tarde o Agrônomo passava por Ponta Grossa, chegando a Guarapuava na boca da noite. No aeroporto, à beira do asfalto, recolhia um tambor vazio e deixava um cheio, para o avião que atendia aquela região. Seguia pela rodovia até entrar à esquerda no trevo de Pato Branco, para chegar até as Águas de Santa Clara, à margem do Rio Jordão, que era atravessado de balsa, já tarde da noite. Se a balsa estivesse do lado de cá, maravilha. Se estivesse na outra margem havia demora, não pela largura do rio que era estreito, mas para acordar o balseiro com as buzinadas e os gritos. A imagem da balsa saindo de dentro da neblina lembrava um pouco a entrada do Inferno de Dante, achava o Agrônomo, mas isso não vem ao caso. Passado o rio, mais uns quarenta minutos e ele chegava à fazenda do Sr. Reinhofer, onde estava baseado outro avião. Nova troca de tambores, um café forte e a saída para o trecho final, passando pelo Pinhão e pela Colônia Samambaia, para chegar à Colônia Vitória já bem depois da meia noite. Às seis da manhã seguinte já estaria acompanhando o trabalho do avião nas lavouras da redondeza.
Uma ligeira análise de um dia de trabalho como esse daria para escrever um tratado sobre como não seguir as boas práticas de ESH. Sem falar na estupidez maior, que era fumar ao dirigir a kombi, transportando a gasolina altamente inflamável.
Deus tinha que estar muito atento!