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Harley-Davidson (Pinduca F68)

19/06/2016 - Por marcio joão scaléa
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O Pesquisador passava de táxi pela Rua Augusta, bem lá em baixo, onde ela já é a Av.Colômbia, quando sua atenção foi chamada por uma placa, na fachada de uma loja : "Harley-Davidson". Na hora, um turbilhão de memórias aflorou.

 

Ele se lembrou de sua infância, quando ainda era o Menino, na Alameda Olga, bairro de Perdizes, em São Paulo. Ele se lembrou do João Japonês, que era mecânico e morava na mesma rua. O João era bem mais velho, já casado, e eventualmente passava pela "vila"(o numero 346 da Alameda Olga) para bater um papo com o pessoal dali, entre eles os irmãos do Menino. O João Japonês tinha uma motocicleta enorme, preta, com uma buzina dessas de caminhão, a ar, e era um acontecimento quando ele ao voltar para casa, de tardezinha, vindo pela Rua Dona Elisa e antes de chegar na esquina da Alameda Olga, dava uma longa buzinada, que até estremecia os vidros das casas. Tudo parava, esperando o caminhão, mas quem aparecia era ele em sua Harley, calmamente, quase parando, motor roncando alto pelos escapamentos abertos.

 

Um dia ele encostou a Harley na entrada da "vila" para o costumeiro papo, e o Menino estava lá, junto com seus irmãos. Antes de apear da moto, o João olhou ao redor e seu olhar se fixou no Menino, que não sabia onde se esconder : será que o Japonês ia mandá-lo embora, dizer que ali não era lugar para moleque ?(era o que o Menino costumava ouvir, quando se atrevia a acompanhar seus irmãos). Mas não, do alto da imponência de sua Harley-Davidson negra, o João Japonês perguntou, talvez comovido pela expressão de súplica estampada no rosto do Menino :

 

- Quer dar uma volta?

 

Foi uma surpresa geral, o João não era de fazer isso, tinha mais ciúmes de sua moto do que de sua mulher! Mas o Menino foi alçado até a ampla garupa, instruido para se agarrar nas costas do João e lá foram eles, lentamente, dar uma volta na quadra.

 

Ao passar pela Rua Augusta, a lembrança mais vívida era a do ronco do motor daquela Harley, que quase cinqüenta anos depois ainda soava nítido e forte nos ouvidos do Menino, convidando-o a parar e entrar na loja luxuosa.

 

           

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