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Hoje 2019, em breve 2030... (HULQ, F-99)
31/01/2019 - Por marco lorenzzo cunali ripoliAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
(Artigo publicado na Revista Canavieiros)
O ano se encerra muito agitado após as eleições de deputados estaduais, federais, senadores, presidente e o povo brasileiro, juntamente com toda cadeia produtiva do agronegócio, deposita no resultado destas eleições o desejo e esperança de um novo país. Para que isso se concretize é necessário muito trabalho, dedicação e informação... Nada se muda do dia para a noite, mas felizmente já existem sinais de melhorias na econômicas em diversos setores e nosso setor continua sendo a roda motriz de nossa balança comercial.
Para quem pensa que 2030 ainda demora muito a chegar, vocês estão errados... Se não começarmos a nos preparamos a partir de agora, não teremos capacidade de atender a demanda de alimentos necessária para alimentar o Brasil e o mundo.
O Brasil conta com atualmente com 72 milhões de hectares de terras aradas, sendo ~9,8 milhões de hectares (13,6%) delas tomadas pela cana-de-açúcar. O setor saltou de ~270 milhões de toneladas na safra 2002/03 com 3,9 milhões de hectares plantados para ~596 milhões de toneladas na safra 2017/18. Este crescimento significativo foi alavancado não apenas nas áreas tradicionais, mas também sobre regiões de pastagens degradadas, solos mais pobres e clima mais adverso com maior défice hídrico.
Para ilustrar a minha preocupação, a produção agrícola mundial precisa aumentar ~20% o que não significa simplesmente aumentar a área e/ou produção de alimentos em 1/5 de todos os países produtores, pois isso é impossível devido a uma série de limitações. De onde virá este crescimento? Adivinhem a resposta... Sim do BRASIL pois já é visto e se mostrou como o maior protagonista, que deverá crescer ~40% sua produção atual, seguido da Ásia em ~15%, da Europa, Estados Unidos e Canadá em ~10% cada. E como faremos isso?
Agricultura brasileira desde o início da colonização, estava localizada principalmente nas regiões costeiras do país e durante os anos 80 começou a migrar para o Centro-Oeste buscando ampliar as fronteiras agrícolas. No entanto, a logística necessária para transportar todos os insumos e escoar a produção não acompanhou este movimento na mesma velocidade, devido à falta de investimentos em infraestrutura.
Uma das formas de se fazer isso são as Parcerias Público-Privada (PPP) que visam em relação ao Poder Público, a suprir a insuficiência de investimentos em silos, armazéns, rodovias, ferrovias e portos, pelo uso de recursos próprios. O governo não tem condições de fazer isso sozinho, então a iniciativa privada já vem promovendo investimentos importantes não apenas para o escoamento de produtos, mas reduzir custos de produção melhorando sua margem operacional.
É cada vez maior a exigência em relação a qualidade dos alimentos e seus subprodutos produzidos em todo o mundo. Ser corretamente sustentável e ao mesmo tempo manter os altos índices de produtividade são dois pontos fortes do Brasil, país pioneiro em uma das mais bem-sucedidas estratégias de produção agropecuária, a ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) que combina diferentes sistemas produtivos dentro de uma mesma área de produção gerando benefícios mútuos.
São mais de 11 milhões de hectares no Brasil, que promovem diversos benefícios: 1) Estabilidade econômica com redução de riscos, 2) Otimização e intensificação da ciclagem de nutrientes no solo, 3) Mitigação das emissões de gases causadores de efeito estufa, 4) Manutenção da biodiversidade e sustentabilidade agropecuária, 5) Redução da pressão de abertura de novas áreas com vegetação nativa, 6) Aumento da renda liquida permitindo maior capitalização do produtor, 7) Geração de empregos diretos e indiretos, 8) Melhoria do bem-estar animal em decorrência do maior conforto térmico, 9) Maior otimização dos processos e fatores de produção, 10) Melhoramento da qualidade e conservação das características do solo, 11) Maior eficiência na utilização dos recursos (água, luz, nutrientes e capital) e ampliação do balanço energético, 12) Aumento da produção de grãos, carne, leite, produtos madeireiros e não madeireiros em uma mesma área, 13) Possibilidade de aplicação em propriedades rurais de qualquer tamanho e 14) Redução da sazonalidade do uso da mão-de-obra no campo e do êxodo rural.
O uso das terras no Brasil é seguramente um dos melhores do mundo, onde 2/3 do território ainda está preservado (a Europa, por exemplo, tem menos de 10%) promovendo uma agricultura equilibrada e sustentável. Apenas 8% do território é utilizado para fins agrícolas e mesmo assim, foi atingido um crescimento de produção de 60% no período de 2004 a 2011, com relevante redução nas despesas com o uso de defensivos agrícolas.
Devido as constantes mudanças de regimes hídricos, vivemos momentos de novas técnicas de irrigação, mais eficientes que visam aplicar realmente aplicar o necessário para atender as necessidades das plantas. Modelos alternativos de produção e reaproveitamento de resíduos vem ganhando atenção, chamados de economia circular, que se torna indispensável. Um fato preocupante é que metade da população mundial em 2030 viverá em áreas com escassez severa de água... Já imaginaram o que significa isso?
Com a mudança deste ambiente de produção, comparado ao que a cana-de-açúcar normalmente era cultivada, fez-se necessário novas práticas agrícolas que promovessem um maior ganho de produtividade. Diversas usinas, principalmente nas áreas de expansão desta cultura, nos últimos anos, adotaram dentre as diversas práticas de manejo novas tecnologias, mais eficientes relacionados a controle de pragas, doenças e daninhas, preparo de solos e nutrição, uso de maturadores, etc. Entretanto, um aspecto que varia muito e chama a atenção, mas ainda pouco abordado da forma correta, está relacionado à utilização de pivôs centrais para a irrigação que pode utilizar de água limpa e águas residuais da indústria.
Outro fato, para 2030 já se espera um aumento das emissões de carbono em 16% e elevação das médias de temperaturas em 1,5oC, que como consequência levara com que a produção agrícola na África, por exemplo, possa sofrer uma redução em 1/3 em até 60 anos. E o que este aumento pode gerar de impacto em outros países produtores?
A escassez de mão-de-obra nas áreas rurais vai aumentar. Em 2014, 45% da população mundial vivia no campo e em 2050 chegara a apenas 34%, acumulando nas cidades aproximadamente 6,3 bilhões de pessoas, trazendo grandes desafios a produção, já mencionado incialmente, armazenamento e distribuição. Fazendas urbanas, hortas coletivas e o conceito de produção vertical estão cada vez mais presentes nos centros urbanos. Serão cada vez menos agricultores alimentando mais pessoas nos centros urbanos!
O Agronegócio carece de uma legislação ambiental mais moderna, menos engessada, que permitirá a utilização de insumos cada vez mais modernos e com menor impacto ambiental. Carece também de linhas de captação de dinheiro mais atrativas que proporcione ao produtor rural mais fôlego.
Por fim, com os atuais avanços tecnológicos foi possível o uso cada vez mais consciente e eficiente dos meios de produção e o custo para aquisição de novas soluções de ponta vem diminuindo permitindo acesso não mais apenas ao grande e médio produtores, mas também aos pequenos. Projeta-se para 2050 um ganho de produção mundial de 70% quando comparada a valores presentes em reflexo ao uso destas tecnologias.
É isso por hora, mas há muito a se fazer!
O Agro não para!
Marco Lorenzzo Cunali Ripoli, Ph.D. é Engenheiro Agrônomo e Mestre em Máquinas Agrícolas pela ESALQ-USP e Doutor em Energia na Agricultura pela UNESP, executivo, disruptor, empreendedor, inovador e mentor. Proprietário da BIOENERGY Consultoria, da ENERGIA DA TERRA empresa de alimentos saudáveis e investidor em empresas. Acesse www.marcoripoli.com