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Meu mundo caiu II (Vavá;F66)

02/04/2021 - Por evaristo marzabal neves
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Dentro do inesperado "fica em casa" sobrou tempo para o "ai que saudades da aurora de minha vida", uma volta refletiva ao passado, relembrando a encantada e deslumbrante vida esalqueana. "Velhos tempos... Belos dias".

"Se casa é uma construção de tijolos e cimento, e lar uma construção de princípios e valores", registro que, prioritariamente, tenho dois lares: minha família, também prejudicada de um convívio "olhos nos olhos" neste tempo da pandemia e a família esalqueana, que também vem passando por um dolorido distanciamento e isolamento social.

E o que colhi em meio século convivendo com a família esalqueana? Muito aprendizado e suma importância daqueles que cruzaram minha caminhada neste Campus abençoado. Meus mestres no tempo de aluno (1962 - 1966), meus colegas professores e nossos colaboradores não docentes ao longo desses quase 50 anos e, principalmente, os alunos.

Nesses agradecimentos tem sentido a expressão: "Aprendi muito com meus mestres, mais com meus colegas companheiros e mais ainda com meus alunos" (Proverbio Judaico). Aos mestres devo o estimulo e a motivação do aprendizado e, acima de tudo, o entendimento e compreensão da importância da missão de educador e orientador, manifestada desde os "anos dourados" da vivência e convivência estudantil; com meus colegas companheiros, por tanto tempo, na arte de ensinar e dividir o conhecimento científico, técnico e social, da autoria e coautoria em trabalhos técnicos, científicos, apostilas, livros e pesquisas, o compartilhar em diversas disciplinas, nos encontros sociais, nos seminários e eventos técnico científicos, etc.

Neste instante abro espaço para agradecer os alunos, com destaque àqueles que estiveram mais próximos neste meio século de minha trajetória acadêmica. Como foi proveitosa, rejuvenescedora, estimulante e motivadora a convivência juvenil em sala de aula, repartir e compartilhar ao longo desses quase 50 anos, minha sala com inúmeros estagiários, bolsistas e outros orientados, principalmente a partir de 1988 com a criação do Programa de Educação Tutorial/Gerenciamento e Administração da Empresa Agrícola (PET-GAEA), no início Programa Especial de Treinamento junto à Capes.

E se hoje permaneço, após aposentadoria em agosto de 2011, em boa parte devo à juventude esalqueana, clara evidência de que meu universo é o mundo juvenil.

Ao findar a gestão de Diretor da ESALQ (janeiro de 1999) e por pertencer ao longo desta (1995-1998) como representante dos diretores das unidades do interior em duas importantes comissões assessoras do Conselho Universitário (Comissão de Atividades Acadêmicas/CAA e Comissão Permanente de Avaliação/CPA), responsáveis pelas avaliações de todos os departamentos da USP e da reforma departamental, passei a ter conhecimento do universo uspiano e ciência de uma possível solicitação da Reitoria para continuar como assessor da mesma.

Diante deste cenário, em carta (12/01/1999) dirigida ao Magnifico Reitor da USP, Prof. Jacques Marcovitch, registrei meus agradecimentos por todo o apoio que nossa unidade recebera, concluindo: "Prof. Jacques tenho a plena consciência do que é uma Universidade Cidadã e do que é ser cidadão e nada me amedronta em sê-lo e, na minha área de ação, sei onde praticar. É diante de dezenas de cabeças juvenis que eu quero fazer escola nestes dois anos que me faltam para completar 35 anos de formado e beirar os 60 anos, que completarei no Centenário da ESALQ (2001). Aqui é o meu lugar" (analogia à música "Meu país" de Ivan Lins, e, neste momento, lembrando trechos da música, complemento: Aqui é meu país...Nos seios de minha amada ESALQ...Me diz, me diz como ser feliz...Em outro lugar).

De lá (1999) para os dias de hoje, ficou mais evidente que meu ambiente acadêmico era o mundo juvenil, visto que desde meu ingresso como docente na ESALQ já se estabelecera esta convivência amiga e fraterna. Quantos ensinei e orientei mas, em contrapartida, quanto aprendi com a juventude esalqueana. Com eles posso compartilhar expressões como: "Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende" (Guimarães Rosa); "Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina" (Cora Coralina); "A vida é um caminho longo, onde você é o mestre e aluno. Algumas vezes você ensina e todos os dias você aprende" (Anônimo); "Tenho um passado rico em memórias. Tenho um presente de desafios, aventuras e divertimento, porque a mim é permitido passar meus dias com o futuro" (J.W. Von Schlatter); "O mestre abre as portas, o caminhar depende de você" (Proverbio chinês)  e, "Quando estou entre os jovens, educando e orientando-os e, por sua vez, aprendendo com eles, não me lembro de que algum dia deixarei esta vida. Esqueço. Rejuvenesço em espírito e isto alonga minha motivação de viver" (E.M.Neves).

Nesta altura caro ex-aluno, você deve estar sentindo o quanto estou entristecido e abalado, mental e fisicamente, com o distanciamento e isolamento social, longe da família esalqueana, principalmente da meninada. No momento, nem o whatsapp, o e-mail, o telefone ou outros meios de comunicação resolvem o que estou sentindo. Para mim, desde a "aurora de minha vida esalqueana", prevaleceu os "olhos nos olhos" e o "tête à tête". Neste sentido, pela aproximação visual que vingou até meses atrás, e pelo que representa a juventude esalqueana em minha vida, meu eterno agradecimento.

Se continuarmos neste distanciamento e isolamento social, sem poder vivenciar no meu cotidiano a beleza de seus edifícios históricos, seus parques, árvores e lagos, colírios de meus olhos, perde sentido determinadas expressões que utilizo para desenvolver, de saída, nos ingressantes o sentimento de pertencimento, ao solicitar que ao chegar e adentrar a ESALQ se sinta em um campo sagrado, pois logo adiante estará defronte a um santuário (gramadão) onde vislumbra o jazigo que guarda os restos mortais de nosso patrono e de sua esposa Dona Ermelinda, em cuja lápide se lê: A LUIZ VICENTE DE SOUZA QUEIROZ - O TEU MONUMENTO É A TUA ESCOLA. Reverencie e respeite o legado de Luiz de Queiroz cultivando seu sentimento de pertencimento e paixão pela nossa escola. E lembrando ainda, o esquenta e chamada geral para as reuniões dos encontros quinquenais na Semana Luiz de Queiroz (outubro) com o "Ói nóis aqui ´traveis´" (no blog em 21/09/2015). E chegando, cada ex-aluno que veio à reunião quinquenal, cantarola: "estou de volta pro meu aconchego (ESALQ)...Trazendo na mala bastante saudade (do tempo bom que não volta mais)...Querendo um sorriso sincero, um abraço (de colega de turma)...E toda essa minha vontade (de rever minha escola mãe)". E só se ouve um lamento: Judia de mim, judia...porque ,dentro em pouco, vamos embora e só daqui cinco anos. Encontro virtual, como foi em 2020, não guarda a mesma emoção dos "olhos nos olhos", o abraço saudoso, o apertar cálido das mãos e o bate-papo sem fim, recordando os anos dourados vividos em nossa escola mãe.

De Confúcio vem a expressão: Escolha um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia em sua vida. Iria além, complementando: Escolha um trabalho que você ame, o faça feliz, dê prazer, o torne útil e não terá que trabalhar um único dia em sua vida. Assim é meu cotidiano na ESALQ. Vivo em férias. Profissionalmente é meu recanto na praia, minha casa no campo, meu chalé na montanha. Precisa de mais?

Como será o futuro? Ao fazer esta pergunta vem a lembrança uma estrofe da música "O amanhã" cantada por Simone, que diz: Como será amanhã... Responda quem puder...O que irá me acontecer... O meu destino será como Deus quiser...Como será? Dúvidas e mais dúvidas.

Caso saia ileso desta pandemia, volta à lembrança a música, título deste artigo, e já anunciada no artigo anterior (Meu mundo caiu), que inicia com: Meu mundo caiu (com a pandemia) e me fez ficar assim (desanimado, desalentado e com muitas saudades de meu cotidiano esalqueano), mas a frente, diz: Se meu mundo caiu, eu que aprenda a levantar. Eu que aprenda a levantar, mesmo que tenha que usar máscaras, manter distância e, a todo o momento, higienizar as mãos, que se Deus quiser no Campus estarei vivenciando e convivendo com minha família esalqueana. Assim seja.

Tenho fé e torço para que em breve estejamos, de novo, juntos "Olhos nos olhos". Aí como fênix, ressurgirei das cinzas. Viva o prazeroso e amigo convívio social esalqueano!

Caro ex-aluno pode estar achando um sentimentalismo provinciano, bucólico e nostálgico, mas é o que sinto. São 2/3 de minha vida. Para reforçar o que estou sentindo, vem a lembrança uma estrofe da música "Sentimental Demais" (Altemar Dutra) que, neste momento, canto: Sentimental eu sou...Eu sou demais...Eu sei que sou assim...Porque assim ela (ESALQ) me faz. Ponto final.

Enquanto isso, vou vivendo de recordações emotivas e me animando com a lembrança de minha reflexão: "Viver entre os jovens é ficar sempre jovem; viver com os jovens é renovar, cada dia no meu intimo, o meu lado criança; viver para os jovens, orientando e educando-os, é sempre SER MESTRE e não, temporariamente, estar professor".

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