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Mudança na logomarca da Esalq (Big-Ben; F97)

31/05/2018 - Por mauricio palma nogueira
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Apesar da paralização que impacta fortemente todas as cadeias produtivas do agronegócio nos últimos dias, a mudança do logo da ESALQ gerou grande repercussão entre os ex-alunos nas redes sociais. A mobilização em torno do assunto é um sintoma inequívoco de uma das maiores qualidades de nossa Escola. Mesmo depois de tantos anos, ex-alunos de todas as gerações dedicam tempo, interagem e opinam, preocupados com os rumos da instituição. O amor pela ESALQ é a grande tradição que realmente deve ser mantida.

Acompanhando todas as manifestações que consegui ler em grupos de WhatsApp ou facebook, estou consciente de que as palavras a seguir vão desagradar as pessoas mais próximas com quem convivo desde que me matriculei em 1993 na Gloriosa. Amigos jacarepaguanos, ex-alunos e alunos, colegas de turma e professores, do alto de todo o meu respeito e admiração pela nossa família esalqueana, vou usar dessa liberdade para discordar da comoção que pautou as discussões dos últimos dias.

Os mais próximos sabem que gosto de me manifestar e, quando o faço, o objetivo não é agradar, seguindo o senso comum. Se isso é qualidade ou defeito, a vida vai acabar me ensinando.  Num texto grande para as redes sociais, optei pelo blog da Adealq para discorrer como estou lidando com o assunto. Não é minha pretensão influenciar ou mudar a opinião de ninguém. Estou ciente também que devo fazer parte de uma minoria de proporções "angstrônicas", dentre os que aprovam a mudança do logo. Vou seguir no raciocínio pontuando as questões que mais foram discutidas.

 1.      Necessidade de mudança do logo e decisão

O logo da ESALQ, com o qual nos acostumamos, não é adequado para os padrões atuais. A arte não se encaixa e não se comunica com o mundo de hoje. Apesar da minha evidente inexperiência e despreparo para lidar com o tema, me sinto confortável em opinar pela experiência que estou vivendo nos últimos seis meses, dentro de nosso grupo, uma empresa privada especializada no agronegócio e atuando em diversas frentes.

Decidimos mudar o posicionamento de comunicação da divisão pecuária, mudança que irá se consolidar nos próximos dias. A minha primeira sugestão foi retomar a bússola da minha empresa que havia sido incorporada pelo grupo em 2013. O logo, desenhado por um profissional especializado em 2008, é inadequado para o uso atual. Tem muita informação, não se aplica em diversas artes e não se comunica de forma eficiente. Em menos de 10 anos, as tendências inviabilizaram um logo que eu, particularmente, gosto muito. É até difícil descrever a minha decepção diante deste choque de realidade que tive literalmente que engolir.

Como empresário, no entanto, eu preciso decidir se eu quero atender o meu gosto ou me comunicar com o mercado. Essa é a função da logomarca. Nem preciso lembrar que em 2008, a rede social de sucesso era o Orkut, enquanto o messenger era acessado apenas por computador. A tendência gráfica dos sites era muito diferente do que temos atualmente. Vou parar por aqui para não me estender num assunto que não domino.

Apenas para concluir, o fato é que, diferente do que foi sugerido em várias conversas, a direção da ESALQ não se dedicou a um assunto supérfluo consumindo recursos sem necessidade; muito pelo contrário, pois trata-se de um decisão estratégica de elevada importância. E, para os que estiveram na solenidade da última semana Luiz de Queiroz (2017), a opção está bem alinhada com as preocupações e com os objetivos elencados pelo diretor da ESALQ em seu discurso de abertura da cerimônia. A ESALQ precisa se comunicar melhor com o mercado, com o público, algo que o diretor Luiz Gustavo Nussio (Bambu) vem ressaltando em toda a oportunidade que tem de se pronunciar perante a comunidade esalqueana.

Ainda com base na mesma experiência dos últimos meses, quero fazer uma ponderação em relação a uma das críticas que, a meu ver, faz mais sentido: a direção poderia ter incluído os ex-alunos, através da Adealq, na elaboração do novo logo.

É verdade. Democracia é sempre bom. Mas será que é viável aplicá-la em todas as decisões? Voltando à nossa pequena empresa, somos em nove sócios envolvidos. O plano de comunicação, com mudança de logomarca e nome, ficou restrito a três, sendo que apenas um monopolizaria a decisão final. Ou fazíamos dessa forma ou não chegaríamos a lugar algum.

Imagina uma decisão dessa natureza sendo democratizada numa instituição do tamanho da ESALQ. Quanto tempo levaria para se concluir? As opiniões seriam técnicas, alinhadas, ou seriam baseadas naquilo que nós queremos ver?

Claro que há uma alternativa intermediária, em que a direção poderia ter apresentado três opções, ou comunicado o racional que seria usado para se chegar a marca, para que os ex-alunos votassem. Além de inclusivo, o próprio processo decisório fortaleceria a comunicação do novo logo, de forma positiva, proativa. Esse ponto, na verdade, é a única crítica que dedico à decisão em relação ao logo.

2.      Logo, cores e mensagens ocultas  

Parece haver uma pequena confusão entre a explicação de como se chegou ao logo e o logo em si. O logo é contundente, auto explicável. Trata-se da Deusa Ceres aplicada sobre um fundo de tom vermelho escuro, ou vinho, com a palavra Esalq. O destaque do "L" e "Q" não foge muito do desenho anterior. Existe alguém que não tenha visto essa mensagem?

A explicação sobre a construção da marca é algo interessante. Voltando mais uma vez à nossa experiência, um dos profissionais que nos ajudou nessa mudança me encaminhou uma série de artigos e vídeos explicando os critérios e mitos na formação dos nomes e construção das logomarcas de grandes empresas: Toyota, Apple, Adidas, Coca Cola, Amazon, BMW, etc.

É verdade que as feições da Deusa Ceres estão alteradas, com traços mais simples, dentro daquela tendência de aplicabilidade da imagem. Mas só percebemos de fato quando a imagem é ampliada, sendo que não é esse o propósito para o qual ela se aplica.  

A cor do fundo talvez tenha gerado a comoção mais insensata, na minha opinião. Se pegarmos os nossos conflitos ideológicos políticos, e colocarmos todos os esalqueanos numa escala, começando com o vermelho pela esquerda, indo para o azul à direta, acho que a maioria dos que me conhecem me colocariam fora da escala, bem à direta do azul.  Mas convenhamos. Qual é a cor do símbolo mais usado pelos ex-alunos?

Relembrem o logo e as cores das repúblicas. A maioria esmagadora usa tons de azul e vermelho, sendo que algumas fazem variações de vermelho e preto, preto e branco e outras combinações mais raras. Quais são as cores dos uniformes da atlética?

É verdade que pode ter uma mensagem oculta justificada pelos professores da ECA (que fizeram o logo), remetendo a um simbolismo político. No entanto, a menos que eles façam como o cartunista Ziraldo, que décadas depois confessou motivação política para escolher a música que considerava pior, quando julgou o polêmico festival de músicas de 1968, nunca saberemos a verdade. Trata-se de um julgamento de caráter, baseado em suposições, ou um problema sem solução.

Eu prefiro lidar com isso da seguinte maneira. Nenhuma ideologia insensata, defendida por fanáticos, vai pautar a minha percepção com relação às cores. Se alguém tentou, ou tentar passar essa mensagem, ela não irá me influenciar. A propósito, o próprio debate em torno do logo está me levando a concluir que não podemos deixar que uma ideologia atrasada, autoritária e violenta se aproprie de uma cor. Quer combater de verdade uma ideia, ou uma cultura? Se apodere de seus símbolos, assuma-os, transmita suas ideias através da própria cultura que se propõe a combater.  

Quem é mais forte? Alguém tentando imprimir uma ideia oculta ou as tradições de uma escola centenária, de excelência, com uma legião denodada de apaixonados a defendê-la?  

Também foi criticado o fato do novo logo suprimir a sigla USP. Como esalqueano, julgo a marca ESALQ muito maior do que a marca USP. E essa mudança no logo foi a única que me agradou de verdade.  Mas essa é apenas a minha opinião, e não tenho pretensão alguma de impô-la.

3.       Instituição e tradições enfraquecidas pela mudança do logo

Com relação à simbologia e as tradições, também discordo que a mudança nos enfraquece. Tradições só devem ser mantidas quando não impedem o avanço, a evolução. A mudança do logo não muda nada em relação aos valores esalqueanos. Se há uma avaliação técnica, uma justificativa embasada, de que o novo formato se comunicará melhor no ambiente atual, a mudança é válida.  

O logo anterior, com o qual todos nos acostumamos, não precisa ser esquecido. Não seria mais interessante sugerir uma conciliação para que o antigo logo seja mantido como um estandarte ou transformado em uma honraria para lembrar a evolução da marca? Isso é possível? Sei lá, mas não acredito que o novo represente, necessariamente, uma destruição do velho.

E não é verdadeira a afirmação de que grandes instituições nunca modernizam seus logos. Várias universidades já o fizeram. 

A discussão me fez lembrar de um episódio na república Jacarepaguá. Em certa ocasião, resolvemos fazer um adesivo com o Jacaré Estudante, quadro pintado em 1957 pelo Carioca (Maurício Estelita), um dos fundadores da república. Vários esalqueanos nos criticaram, falando que a república estava mudando a placa, esquecendo suas tradições, etc.,etc.,etc. Não tinha nada mais descabido do que essas críticas. Estávamos apenas expondo à comunidade um dos símbolos que internamente era, e ainda é, muito caro aos jacarepaguanos. A placa está lá, assim como o jacaré estudante.

Ainda no que tange à instituição, as opiniões mais acaloradas precisam ser acompanhadas de uma dose de reflexão. O que enfraquece mais a instituição? A modernização de um logo ou toda uma legião de ex-alunos questionando o senso de prioridade e a capacidade da atual gestão da ESALQ? Vale citar aqui o Irineu Evangelista de Souza (Barão de Mauá) que era crítico ferrenho da monarquia, mas defendia o imperador quando estava fora do país. Ao responder porque agia assim, se limitava a dizer que problemas internos deviam ser discutidos no Brasil, para que os pontos fracos não fossem usados contra o país.  

4.      Sobre o logo em si  

Para finalizar, a minha opinião sobre o logo. Também torci o nariz quando o vi pela primeira vez. A primeira reação foi um "não gostei". Ninguém fica confortável diante de uma mudança; ainda mais em relação a uma instituição que tanto nos envolve.

A medida que fui me informando melhor, acabei compreendendo a necessidade de mudança da comunicação. Ainda não acho que o logo seja digno de um "UAU, que maravilha!!!", mas já estou aceitando que é uma opção melhor do que a anterior, considerando o contexto e a finalidade que se propõe.

Dá para melhorar? É claro que dá.

Eu tenho condições, tempo, competência ou recursos para contribuir?  Não.

Portanto, eu preciso aceitar e confiar naqueles que chegaram a essa decisão. Afinal, eles não estão lá por acaso.  

Acredito que toda a nossa dedicação, esforço e compromisso com a ESALQ precisam ser canalizadas para algo positivo, que possa ajudar a direção nesse processo. Não sei se ainda há tempo, não sei se é possível e tampouco sei como fazer, mas também não acredito que a forma como estamos tratando o tema, como ex-alunos, seja o caminho.

Mais uma vez, peço desculpas a todos que possam se ofender com o meu posicionamento. O amor e admiração pela Escola é o mesmo, embora os pontos de vista possam ser diferentes.

 * Maurício Palma Nogueira (Big-Ben, F-97)

engenheiro agrônomo, sócio da Agroconsult Pecuária, coordenador do Rally da Pecuária, ex-morador da República Jacarepaguá

 

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