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Na minha época (Maria Machado César Leão)
20/06/2015 - Por maria machado césar leãoAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

Maria Machado César Leão*
Fiquei emocionada quando vi “O Arado”
2006 e a memória escorregou para os anos 1940, trazendo lembranças que julgava
esquecidas. A emoção foi aumentando, e a vontade de escrever sobre “Minha
época” superou o suposto esquecimento.
Como
não me lembrar daquela época, os anos da Segunda Grande Guerra! Embora o Brasil
estivesse tão longe dela, sempre procurávamos saber notícias pelo rádio, que
faziam muito “agricolões” vibrarem, a ponto de muito deles pensarem em ser
pilotos de aviação para “enfrentar o inimigo”.
A
mocidade, porém, falava mais alto, e grande parte dos estudantes já estava
comprometida com seus amores e a vontade arrefecia, claro.
Naquela
época, só havia o curso de Agronomia e os professores de Matemática, Física e
Engenharia vinham da Escola Politécnica, de São Paulo, para nos dar aulas. O
prof. Brieger veio da Alemanha para lecionar Genética, que estava nascendo na
Escola e o prof. Athanazzof veio da Bulgária, trazendo conhecimentos novos em
Zootecnia. Os professores mais velhos impunham respeito e uma “certa
distância”. Eram famosos e nos passavam conhecimentos que nos foram muito
úteis.
Quando
prestei o exame vestibular, em 1941, éramos 148 candidatos e a única saia era a
minha. Fui a quinta mulher formada na Esalq e hoje, com 83 anos, conservo pela
“Gloriosa” o mesmo amor e respeito que tinha naquele tempo!
De
maneira oposta à profa. Beatriz Appezzato da Glória, que escreveu o
artigo anterior, inaugurando esta coluna, e possui uma intensa vida profissional
como agrônoma (é professora titular do Departamento de Ciências Biológicas),
não exerci a carreira. Casei-me com um agrônomo colega de classe (claro, não?)
que se especializou em Tecnologia de Açúcar e Álcool, trabalhando em usinas do
grupo Ometto e Dedini. Ganhei de presente três filhos – o mais velho é agrônomo
e seu filho também – de maneira que “nessa idade” sou a primeira avó a ter
filho e neto agrônomos pela Esalq! Beleza!
Beleza
mesmo foi quando me elegeram “Rainha dos Estudantes”, em 1945, com uma festa e
um baile retumbantes, e, por aí vocês vêem como era estimada e respeitada...
Eu, também, queria a todos muito bem! Meu temperamento comunicativo me ajudou a
transpor os seis anos de Escola com leveza e alegria. Foi a época mais feliz da
minha vida!
Na
minha época não havia carros nem ônibus, e os estudantes eram transportados
pelos três bondes. As 7h15 (em ponto!) eles saíam do centro, do ponto atrás da
Catedral. O último, atrelado, sem motor, que chamávamos de “reboque”, ia sempre
cheio e nele saíam as algazarras, com gente tocando gaita, cantando, gritando.
A maioria ia dependurada no estribo, só por diversão.
Creio
que fui o “patinho feio” das agrônomas, que, desde 1936, vêm brilhando em todos
os ramos da atividade agronômica e daqui eu as parabenizo e abraço com carinho.
Tenho certeza de que grandes mentes ainda brilharão nesse cenário!
Guardo
em minha casa um quarto com todas as lembranças das festas de cinco anos, que
todos lembram – e este ano, foi muito especial, pois, fiz sessenta anos de
formada. A festa foi linda e emocionante!
É
uma pena que não possa escrever nada sobre Agronomia, porque nada produzi –
mas, tenho pela terra, pela natureza e pelas lavouras tão diversas, com tanta
tecnologia moderna, muita reverência, e mesmo muito amor.
Maria na Ultima Festa de Encerramento da Semana Luiz de Queiroz
* Maria
Machado César Leão é piracicabana, formada em engenharia agronômica pela
Esalq/USP em 1946. Foi casada com o engenheiro agrônomo Liberato Leão Junior.
Possui três filhos e seis netos.