Blog Esalqueanos

O Rugby na Esalq e Eu (ajude o Alma a encontrar essa foto)

17/04/2019 - Por fernando de mesquita sampaio
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Paga-se uma rodada de chopps artesanal esalqueano para o indivíduo que me ajudar a encontrar o original da foto abaixo:

Motivo:

Aquele segurando a bola sou eu. Sim, primeiro que não parece comigo. Segundo que eu sei, aparentemente estou prestes a sofrer uma entrada dura por trás do Araponga, mas acreditem, não é por isso.


Uma das vantagens de ter nascido e estudado no século passado é que há poucos registros eletrônicos comprometedores de certos períodos de sua vida no ar. Imagina ser um desses esalqueanos que alcançam altos cargos na diretoria de empresas, entidades de classe e órgãos governamentais, e aí uma foto sua na xispada começa a circular no grupo de whatsapp da firma... Ou você na Fantesão, vestido de , vomitando...


Uma das desvantagens de ter nascido e estudado no século passado é que há poucos registros seus que de fato você gostaria de guardar (eu, como terceiro filho, acho que tenho uma ou duas fotos de quando era bebê. Meu filho de 3 anos deve ter uns 70 terabytes de imagens).


O século passado, jovens millenials, era um lugar maravilhoso com coisas como inflação e notas de dinheiro carimbadas, aluguel de linhas telefônicas, piadas politicamente incorretas e loiras seminuas em programas infantis.


Nestes áureos tempos, a extinta TV Manchete atingiu o ápice da glória com a melhor telenovela de todos os tempos, Pantanal. Isso permitiu à emissora ter dinheiro para comprar programas importados, e entre eles programas europeus de esporte. O que permitiu a mim, jovem rapaz, conhecer este magnífico esporte chamado rugby, nos longínquos sertões brasileiros onde passei a adolescência.


Como jovem doutor do primeiro ano na ESALQ, interessei-me em integrar o Luiz de Queiroz Rugby Club. Pequeno problema, eu devia pesar menos de 70kg. Me lembro da primeira semana na Jacarepaguá, berço de grandes jogadores esalqueanos, quando foi promovida uma partida amistosa de rugby entre os doutores do 1º ano da F97. Fui selecionado para dar o pontapé inicial, o que teria sido muito legal se a bola não estivesse cheia de areia. Um dos meus colegas acadêmicos, o grande Pavor, futuro ídolo do time esalqueano e saído das bases do São José Rugby, outro berço do esporte no Brasil, ficou empolgado com a brincadeira a patrolou todos os colegas acadêmicos com a bola cheia de areia nos braços.

Eu me juntaria ao time dois anos depois, depois de um intenso programa de educação alimentar à base de cerveja e da caixinha apelidada de semana do colesterol (comida boa e que faz mal) da República Lesma Lerda. A dieta promoveu para mim significativo ganho de peso diário e ótimos índices zootécnicos, embora os doutores tenham me obrigado no primeiro ano a sucessivos exames de verminose que eram levados por mim (contra minha vontade obviamente) ao Professor Mariconi para análise e diagnóstico.


A performance em ganho de peso me levaria da minha posição original de segundo centro à terceira linha do scrum anos depois.


Joguei nos Interusp's de Valinhos em 94 e Paulínia em 95, duas medalhas de prata (a Poli e seu gordo maldito levaram o ouro nos dois anos). Ganhamos o EsalMack em 95. E em 96, em Ourinhos ganhamos a prata de novo e eu ganhei um ombro deslocado. Detalhe, como a partida era contra a Medicina Pinheiros, os estudantes de medicina do time acharam que tinham competência para por meu ombro do lugar. Desistiram, graças a Deus, depois de algumas tentativas e deixei o campo de Samu. Em Marília no ano seguinte, a ESALQ ganharia o ouro. E o Dr. Tropeço me presentearia gentilmente com sua medalha, já que eu não tinha podido jogar.


Os ombros seriam meu calcanhar de Aquiles pelos anos seguintes na minha pequena grande carreira de jogador. Arrebentei o ombro direito mais três vezes, incluindo uma remando num caiaque num rio congelante na Europa, e uma durante um jogo amistoso em um churrasco da F97 (não tente fazer isso em casa). Assim como os estudantes da Pinheiros, meus colegas acadêmicos mais delicados como o X Tudo, Big Ben e outros também cismaram que conseguiriam por meu ombro no lugar porque o Mel Gibson em Máquina Mortífera conseguia). Coloquei um parafuso no ombro. Treinei na França algumas vezes na escola de agricultura onde fui fazer um curso. Mudei para a Holanda, descobri um clube na cidade onde fui morar. Falei para esposa animado, vou treinar. Liguei para ela uma hora depois do hospital, vem me buscar que eu arrebentei o ombro esquerdo, amorrrr. Que arrebentaria mais uma vez depois. Pendurei as chuteiras.


Em Pira, fora os Interusp, jogamos amistosos com Pasteur, com o Desterro em Florianópolis, e outros que não vou me lembrar. Mas mais do que lembrar contra quem joguei, lembro muito bem com quem joguei. Colegas acadêmicos como Tanjal, Preto, Gominha, Pavor, Farofa (que vivia de joelho ralado dos tacles excepcionais que dava) Sabugo, grande monstro do rugby esalqueano. Doutores Barrete, Tropeço, Titika, Xumaço, Araponga, Hortensia, Funerio, Moringa, Jilet, Lepra (o melhor half que vi jogar). Bixos como Frajola, Equino, Teflon e outros que voavam baixo no campo. E nosso grande e inolvidable técnico, professor e incentivador, nosso boludo Dr. Mono.


Há algum tempo alguém circulou uma foto no grupo do Jurassic Pira. Foi uma das raras do meu tempo. Lá estavam Tanjal, Pelucio, Xumaço, Tucuxi, Olandeis, eu, Sak.



Lembro desse jogo, de ter feito um try e do Tucuxi correndo e pedindo a bola porque ele queria fazer aquele try. Sinto por essa, amigo. Você agora está curtindo o terceiro tempo no Valhalla dos jogadores de rugby, para onde iremos todos, e espero que aí eu possa pagar uma rodada.


O rugby possivelmente é o único esporte que eu gostei de praticar na vida. E continuo gostando. É um dos poucos esportes que eu tenho paciência de assistir na TV (não consigo conceber alguém ser capaz de assistir uma partida de tênis inteira ou de golfe...). Outra vantagem de não estar mais no século passado é ter TV a cabo e assistir o Six Nations em casa. Em 1995, a gente tinha notícias da Copa do Mundo (aquela que o Mandela fez a Africa do Sul ganhar em Invictus) por pombo correio...


Encontrar esalqueanos é sempre uma festa. Encontrar esalqueanos do rugby é uma festa com um plus a mais de alegria. Fui com amigos do rugby assistir à estreia do  esporte nas Olimpíadas do Rio. Fui ver a Seleção Brasileira jogar, no Pacaembu, em Barueri. Agora que moro em Cuiabá, vou assistir aos jogos do Cuiabá rugby, e no ultimo jogo encontrei o Gampi jogando pelo time de Primavera do Leste, time fundado por esalqueanos. Fico feliz de ver o esporte crescer no Brasil, de ver o Brasil crescendo no cenário internacional.


O Brasil precisa de mais rugby e menos futebol. Cada vez gosto menos de futebol, e do horror que é o país do futebol. Cada vez que vejo um moleque mimado milionário feito Neymar rolar na grama dá vontade de entrar no campo e acertar-lhe aquela bicuda na cabeça. Cada pênalti cavado, cada tentativa de enganar o juiz, cada fingimento, cada desrespeito flagrante com o adversário, com o próprio time e com o torcedor é uma certeza a mais de que não é esse o Brasil que queremos. Sem falar das negociatas e cartolagens que arruínam clubes, campeonatos e envergonham o esporte.


A foto que eu quero circulou no grupo dos Jurássicos. O Titika disse que recebeu de outro grupo, que recebeu do grupo da Gato Preto, que recebeu do grupo da turma não sei de quem.


Faço um apelo aos deuses das nuvens internéticas e aos desocupados do whatsapp que me ajudem a achar o dono dela, para que eu possa ter uma versão HD para ser impressa e emoldurada, como fiz com a outra. Estrão aqui juntas das minhas medalhas, minha bola e meu manto azul com o A encarnado no peito.  


AlmaRugby.png


Toda santa noite ao me deitar meus ombros doem. E apesar disso eu me alegro ao me lembrar dos jogos que joguei ao lado dos amigos. E como Henrique V, na peça de Shakespeare, discursando às vésperas de Azincourt, mostro com orgulho as cicatrizes, e acho que os outros que não estavam lá, estarão hoje maldizendo o fato de não estarem lá. 


(PS: mandar a foto para fmsampaio75@gmail.com)

 

We few, we happy few, we band of brothers;
For he to-day that sheds his blood with me
Shall be my brother; be he ne"er so vile,
This day shall gentle his condition;
And gentlemen in England now a-bed
Shall think themselves accurs"d they were not here



Fernando Sampaio (Alma F97), é Engenheiro Agrônomo e Ex Morador da República Lesma Lerda

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