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Quando as fêmeas pressionam o mercado (Scot F76)

24/02/2017 - Por alcides de moura torres junior
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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A oferta de fêmeas e o período seco do ano pressionam o mercado do boi gordo em função do aumento da oferta de bovinos terminados, o mercado fica frouxo. Até aqui nada de novidades. 


Para 2017 a disponibilidade de fêmeas tende a ser um pouco maior devido à diminuição da atratividade da cria em 2016, com aumento de custos maior que a variação do preço do bezerro. 


O objetivo desta análise é avaliar se realmente sempre ocorre queda de preço com a chegada destas variáveis à equação do mercado. 


A chegada das fêmeas


Em março normalmente ocorre o maior abate de fêmeas, quando analisamos a média histórica. O maior volume de vacas e novilhas chega ao mercado com o fim da estação de monta e isto pressiona negativamente as cotações. 


Consideramos as variações de preços entre janeiro e março entre 2001 e 2016, para avaliar o efeito no mercado, tanto da evolução da safra, como da oferta destas fêmeas.


Nestes 16 anos, houve altas entre janeiro e março em metade deles, com preços cedendo na outra metade das ocasiões. A variação média foi de 0,4%.  Uma oscilação pequena.


Uma possibilidade da causa desse fenômeno é que a chegada de mais gado ao mercado ocorre com uma melhoria gradativa do consumo. Não que tenhamos grande demanda em março, a questão é que no início do ano o consumo é fraco em função das contas e das dívidas contraídas com as festas e dos impostos concentrados em janeiro, menos dinheiro na praça. 


A relação com a fase do ciclo de preços pecuários


Mas há outro fator interessante e importante a ser avaliado. As fêmeas são oferecidas em maior volume em anos de baixa do ciclo de preços pecuários, uma vez que são a principal causa da queda da cotação da arroba. E estes abates se concentram em março. 


Para analisar esta relação, isolamos apenas os anos de baixa do ciclo pecuário. Consideramos anos de baixa quando a média anual de preços, deflacionada pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna), recuou frente ao ano anterior.


No intervalo analisado, foram nove anos de baixa do ciclo. Neste grupo, a variação entre janeiro e março é mais homogênea. Tivemos quedas em oito e apenas uma valorização (2016). A média das variações nestes anos foi de queda de 1,9%. 


Em anos de alta, ocorreram valorizações entre janeiro e março em todos os sete anos.


Algumas contas


Para reforçar a hipótese, calculamos a correlação entre as variações anuais (caracterizando anos de alta e baixa) e as oscilações entre janeiro e março. O resultado foi de 0,76, indicando uma relação alta entre as séries e reforçando a tese.


 



A figura 1 mostra a relação entre as séries.


Cada ponto representa um ano. A posição na vertical indica o quanto o mercado do boi gordo variou naquele ano, em valores reais, frente ao anterior. 


A posição horizontal indica o quanto o mercado variou entre janeiro e março. Nesta comparação, devido ao curto prazo e para não incluir a inflação na conta (que seria mais uma variável), usamos valores nominais. 


Como exemplo, observe o ponto mais acima no gráfico. Ele representa 2008, que teve cotação média 23,9% maior que no ano anterior. A variação entre janeiro e março foi de 2,9% (posição no eixo horizontal).


Quanto mais os valores ficam próximos da linha de tendência (reta no gráfico), maior é a relação entre as séries. 


Sempre cabe o destaque que histórico não faz mercado, mas como as variáveis (abate de fêmeas, consumo, sazonalidades) estão presentes nas séries, é uma referencia útil.


O que fazer com estas informações


Se considerarmos que 2017 deve ser um ano da fase de baixa do ciclo pecuário, com abate maior de fêmeas e preços médios reais menores que em 2016, é provável que tenhamos pressão nos próximos meses. 


O mercado futuro, no fechamento de 7/2 apontava para R$142,60/@, à vista, ao final de março em São Paulo. Este valor representa uma queda de 3,0%, frente aos preços ao final de janeiro. 


Sem tentar acertar a magnitude das movimentações, mas a expectativa de preços mais modestos nos próximos meses vai ao encontro do histórico e da conjuntura atual.


* Alcides de Moura Torres Júnior (Scot F76), Engenheiro Agrônomo, é sócio fundador da Scot Consultoria, foi Editor do ARADO, Exímio praticante de Rugby e Remo, Ex Diretor da AAALQ, Presidente do Conselho de Republicas e Assíduo colaborador com inúmeras funções no CALQ  - Ex Morador da Republica Jacarépaguá

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