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QUE MOMENTO É ESTE PARA A CITRICULTURA? (Boca Larga F79)
27/06/2016 - Por mauricio l m silva lemos mendes da silvaAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Revista Citricultura Atual - GCONCI - Junho 2016
Matéria de Capa
QUE MOMENTO É ESTE PARA A CITRICULTURA?
A citricultura mundial vive momentos de mudanças importantes. Não houve na história desta atividade um período de tamanha turbulência, com tantas ocorrências importantes. Refiro-me aos últimos 15 anos. Ataques contra o consumo de suco de laranja vindos de médicos e nutricionistas e problemas de doenças gravíssimos, modificando e encarecendo o sistema de produção nos pomares do Brasil e dos Estados Unidos. Apesar de tudo, faço uma análise otimista para o setor, especialmente para aqueles que consigam ser eficientes e competitivos, estejam eles na produção agrícola, industrial ou na distribuição.
CONSUMO
Desde 2003, o consumo de suco de
laranja tem caído em nível global. Naquele ano, o mundo consumiu o equivalente
a 2,6 milhões de toneladas ou 2,6 bilhões de litros (equivalentes de suco de
laranja a 65°brix). Uma década
depois, o consumo foi de 1,9 milhão de tonelada, uma expressiva queda de 30%.
Ao analisar os dados com mais
profundidade, o cenário é ainda pior: a maior parte da redução se deu nos maiores
consumidores: nos Estados Unidos, o consumo caiu 33%; na Alemanha, 34% e no
Reino Unido, 20%.
A causa da queda foi,
principalmente, pela forte pressão sobre alimentos calóricos e também pela
crise financeira, deflagrada em 2008, com resquícios vistos até hoje. Isso deu
espaço para a substituição de sucos de frutas por opções mais baratas, como águas
saborizadas, bebidas de soja, isotônicos, entre outros.
Por outro lado, a boa notícia é que o quadro é diferente em países em desenvolvimento. Na China, por exemplo, que apesar da pouca tradição em bebidas frias, o consumo cresceu 184% no período. Claro que a base inicial de comparação é pequena, mas esse país asiático já consome mais de 150 mil toneladas, aproximando-se da própria Alemanha em volume total consumido. O Brasil também cresceu 21%, passando de 41 para 61 mil toneladas nessa década, e com tendência de crescimento.
PRODUÇÃO
Em termos de produção, o
movimento também foi de queda. O grande divisor de águas foi o HLB (Greening).
A doença bacteriana, transmitida de forma muito eficiente pelo psilídeo, estava
confinada há mais de um século na China, e há pouco menos tempo na África do
Sul. Com a chegada da doença em 2004 ao Brasil e em 2006 à Flórida, as duas
principais regiões produtoras de laranjas do mundo, a produção passou a
declinar. Nesta época, São Paulo e Flórida produziram juntos cerca de 600
milhões de caixas de laranjas, o mais alto volume da história. Dez anos depois,
a produção dos dois estados somou menos de 400 milhões de caixas - uma redução
superior a 30%.
BRASIL
Como se sabe, o Brasil é o grande
produtor e exportador de suco de laranja. O que pouca gente percebe é que é,
também, um grande consumidor. Explico: se olharmos os números existentes para o
consumo interno do suco concentrado, usado para produzir sucos prontos para
beber, sejam eles néctar (suco + água + açúcar) ou sucos de frutas (suco
concentrado + água), chegamos a pouco mais de 60 mil toneladas de suco
equivalentes (65°brix), o que é
pouco.
Entretanto, uma análise mais
profunda, levando-se em conta que ficam no Brasil entre 80 e 100 milhões de
caixas de laranjas in natura, e que 95% dessa fruta é transformado em suco, nas
casas, bares e restaurantes, conclui-se que o Brasil consome cerca de 300 mil
toneladas de suco, equivalente a (65°brix).
Somam-se a isso os volumes de
suco pasteurizado, néctares e bebidas de frutas e temos um consumo
considerável. Para efeito de comparação, os Estados Unidos, o maior consumidor
mundial, consomem cerca de 600 mil toneladas e a Alemanha, o maior cliente de
suco do Brasil, cerca de 160 mil toneladas.
Em relação aos sucos pasteurizados,
sabe-se informalmente, com importantes atores do mercado, que a produção de NFC
(Not From Concentrate) no Brasil está
em torno de 80 a 100 milhões de litros anuais. Se transformarmos em suco
equivalente, é algo em torno de 30 mil toneladas. Hoje encontram-se no Brasil
outras alternativas, como os smoothies
e sucos prensados a frio, e apesar de volumes pequenos, indicam um mercado que
busca alternativas e pede novos produtos.
Confio muito no mercado
consumidor brasileiro. No entanto, os empresários que estão acreditando em
nosso mercado não devem se esquecer que o brasileiro tem um paladar
apuradíssimo para o suco de laranja. Somos acostumados a tomar suco de
qualidade - aquele espremido na hora. Outro fator que inibe um maior
crescimento deste mercado é o custo, penalizado pelos altos valores de
embalagem, logística e impostos em todas as esferas. É possível tomar um suco
em "caixinha" mais barato na França ou Inglaterra do que no Brasil, mesmo que o
suco venha do Brasil. É inacreditável. A CitrusBR encomendou com Marcos Fava
Neves um estudo comparativo de preços finais de suco, que demonstra esse fato.
O QUE ESPERAR PARA OS PRÓXIMOS
ANOS?
O último relatório do USDA, Citrus: World Markets and Trade, de janeiro 2016, mostra um fenômeno alentador: a produção mundial de suco está inferior à demanda (ver gráfico). Ou seja, há dois anos o consumo cai menos do que a produção, indicando que devemos ter anos com preços mais elevados, tanto para o suco no mercado internacional como para a caixa de laranja paga ao citricultor no Brasil. Há um risco evidente que a elevação do preço do suco traz: a diminuição do consumo. Este fenômeno é natural em mercados livres. Mas aí está mais uma vantagem para a citricultura brasileira. Somos mais competitivos do que o nosso maior concorrente, a Flórida, mesmo que ainda haja impostos de mais de US$ 400,00 por tonelada sobre o nosso suco. Nas fazendas, somos mais eficientes no controle do HLB e temos produtividade superior a custos mais baixos. Na área industrial, temos a melhor tecnologia, estrutura logística e escala. Toda essa eficiência compensa a distância para entregar o suco no próprio mercado norte-americano e também no europeu. Para o mercado asiático, somos ainda mais competitivos.
Concluindo, o Brasil é o país que
apresenta a maior capacidade de atender ao mundo com sucos de qualidade a
custos mais competitivos. Se o volume cair a níveis ainda mais baixos,
sobreviverá quem for mais eficiente, que é o caso do Brasil atualmente. Assim,
sou otimista.
Vejo o horizonte como muito
positivo para quem for competente e souber produzir com qualidade. O mundo irá
tomar mais e mais suco de laranja "100% made
in Brazil".
Eng. Agr. Maurício Mendes
Consultor do GCONCI
Sócio Agriplanning Consultoria em Agronegócio