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Reflexões sobre Comunicação (Fixi; F11)
17/05/2018 - Por beatriz fonseca domeniconiAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Tenho me interessado cada vez mais pelo
tema "comunicação". Embora não tenha muitas habilidades com as redes sociais,
tenho me empenhado em publicar algumas coisas sobre as observações que faço no
meu dia-a-dia.
Recentemente compartilhei minha opinião
sobre uma das frequentes falhas de comunicação que ocorrem em diversos
veículos e que me incomodam bastante - uso de termos inadequados e
conceituações impróprias.
Compartilho aqui, no blog da Escola, pois
entendo que nossa "comunidade" é um dos principais grupos responsáveis pela
comunicação e pela formação de opinião sobre o Agro brasileiro e a tudo que se
refere à produção de alimentos - temas ainda tão pouco conhecidos pela
população que a cada dia reage com mais pré-conceitos e conclusões
superficiais.
Deixo, junto com o texto abaixo, um apelo
para que nós, profissionais do Agro, responsáveis pelos conhecimentos que
adquirimos e pelo senso crítico que fomos estimulados a desenvolver, nos
empenhemos diariamente em combater a desinformação em temas de tamanha
relevância como a produção de alimentos, energia e demais produtos de origem
animal e vegetal que fazem parte do nosso cotidiano.
Pequenas substituições, grandes
alterações.
Caros
jornalistas e demais comunicadores, antes de lerem meus comentários, quero
ressaltar que tenho grande admiração pelo trabalho de vocês! Mesmo! :))
Escrever não é tarefa
fácil... Exige alguns exercícios para que a conexão "conteúdo-origem-destino"
ocorra a contento.
Gostaria de chamar atenção
para um dos exercícios corriqueiros de escrita que é a substituição de palavras
e termos sinônimos, com o objetivo de evitar repetições. Algumas vezes, essas
substituições, por mais sutis que pareçam ser, modificam completamente o
sentido do texto!
Aos "destinos" relativamente treinados para receber a informação, causa
estranheza.
Àqueles não tão treinados ou mesmo leigos no assunto do qual a informação
trata, gera confusão e contribui com a consolidação de conceitos equivocados.
Como exemplo dessa situação, aproveito uma notícia de hoje, do Ministério da Agricultura. Ao ler o título "Novo RIISPOA concentrou-se na segurança alimentar, diz secretário Luís Rangel", duas possibilidades me causaram estranheza:
1. RIISPOA é uma
ferramenta de regulação sanitária... Não está relacionada (diretamente) à
segurança alimentar;
2. O secretário Luís Rangel não teria confundido "segurança alimentar" com
"segurança do alimento"!
Pois é, ele não se confundiu! Ao abrir a notícia, li a fala do secretário entre
as devidas aspas e nela estava o termo "segurança do alimento".
A confusão ocorreu durante o exercício de substituição de palavras e termos
supostamente sinônimos, mas que, embora semelhantes, carregam conceito bastante
distintos.
Segurança alimentar: garantia de não escassez de alimentos - garantia de acesso
aos alimentos (em volume e qualidade para o consumo das populações);
Segurança do alimento: atributo sanitário - garantia de que um alimento não
causará danos à saúde de quem o consumir.
Eu sou um "destino" bem menos
treinado do que eu gostaria, mas acredito que essas pequenas substituições
ocorram em todas as áreas de conhecimento. Na minha área de atuação - Pecuária
- algumas das substituições mais frequentes e que causam mudanças de contexto
são:
- produtor
// criador (criador é o produtor que atua na etapa de cria. Todo criador é
produtor, mas o contrário, não necessariamente é verdadeiro);
- produção extensiva // produção em pastagens (o termo "extensivo" não se
aplica a todos os sistemas de produção em pastagens. Inclusive, a pecuária tem
avançado - e muito - em produtividade baseada em sistemas mais intensivos de
manejo de pastagens)
- produção // produtividade (o total que se produz versus o total que se produz
por unidade de área)
- produtividade // rentabilidade (total que se produz por unidade de área
versus o quanto "rende" a produção - quanto que se ganha por unidade
produzida - que vai depender dos custos para se obter um determinado nível de
produtividade)
- sustentabilidade // desmatamento zero (hehehhe ok... Essa última é uma
"birra" pessoal! Não gosto quando se usa um termo como sinônimo do
outro... Não são! Desmatamento zero pode ser um dos critérios para uma produção
sustentável, mas está longe de a definir!:)
Eu sou Beatriz Domeniconi (Fixi
F-2011), sou Zootecnista pela UNESP de Botucatu e Engenheira Agrônoma pela
Gloriosa. Atualmente coordeno o Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável -
GTPS - associação que reúne representações de todos os elos da cadeia de valor
da pecuária brasileira e que atua na consolidação e disseminação de informações
sobre pecuária, comunicação setorial e engajamento para a adoção de boas
práticas e melhoria contínua.