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Sandálias da humildade (Vavá; F66)
16/03/2018 - Por evaristo marzabal nevesAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Não se refere a um programa de televisão e muito menos orientação ortopédica, longe disso.
No sentido literal, sandália significa “espécie de calçado, formado por uma sola que se liga aos pés por meio de correias, ou tiras e/ou cordões”.
Já, humildade é “virtude de um sentimento que expressa
simplicidade, modéstia ou sentimento da própria inferioridade (é gente
humilde...que vontade de chorar)”.
Sandália, calçado simples e modesto, colocado sob os
pés que comandados pelo cérebro, levam e movimentam corpo e alma das pessoas, caminhando
e andando para atingir seus objetivos e que, calçada com humildade, conduz um
ser simples para as escaladas da vida.
Então, num sentido figurado e começando com o ambiente
de trabalho, deveria calçar sandálias da humildade:
a) Aquele que ignorando a cultura de uma comunidade ou de
uma organização social atropela o cotidiano querendo, de repente e autoritariamente,
impor mudanças e transformações naquilo que é costume, tradição cultural. Para
este serve a orientação que passo ao aluno de que na chegada em qualquer novo
ambiente “procure ser antes um agente de percepção do que um agente de
mudança”, já que “a natureza nos deu dois ouvidos e uma boca, sinalizando que
devemos mais ouvir do que falar e que, falando muito, podemos nos comprometer”.
Relembro ainda de que negociação é a palavra chave no mundo moderno e que hoje
é “ganha-ganha” e não impor “ganha-perde”. Isto já era. Vá com calma, não
atropele a cultura existente, busque sua inserção e adaptação já que “tempo não
é mais dinheiro, tempo é relacionamento”;
b) Aquele que tem a soberba da arrogância e no ambiente
de trabalho menospreza o subalterno, apequena-o com humilhação, ironizando o “coitado”
que não teve a oportunidade e o privilégio de nascer em “berço de ouro” e obter
educação igual (aliás, confundem educação intima com educação universitária) afundando
sua auto-estima. Por que não usar a prática do “elogio-critica”? Por que partir
para a critica raivosa? Em minha passagem pela administração universitária,
aprendi que com educação você ganha o respeito e que seus comandados, estimulados
e motivados para o trabalho em equipe, aumentam sua eficiência e ganhos de
produtividade, estabelecidos em ambiente oxigenado, arejado, saudável, sem
assédio moral, sem a poluição da intriga ou do “diz-que-diz”;
c) Aquele que ocupando posição do poder adquire conduta
soberba e postura autoritária, “nariz empinado”, arrogando-se ao direito de que
tudo pode, acima da ética organizacional, pois caso não aceitem sua poderosa “autoridade”
serão penalizados sob sua “lei”;
d) Aquele que não entende que todos têm problemas, uns
mais do que os outros, emocionais, sentimentais, físicos, sejam domésticos ou
organizacionais, mas que com incompreensão e intolerância não sabe discerni-los
e auxiliar com orientação. Busca simplesmente ferir e machucar o próximo,
ignorando o que pode ser armazenado no subsolo de seu inconsciente, feridas que
não se cicatrizam mais.
“Sandálias da humildade” podem trazer a lembrança de que
jamais foi visto Nosso Senhor Jesus Cristo calçando sapato de grife; aliás, a
túnica, comprida e solta até os seus pés, não permitiam ver se estava descalço
ou com sandálias. Provavelmente com sandálias simples, pois liderando e
chefiando seus seguidores e simpatizantes, caminhou bastante buscando converter
os ateus com mensagens de fé, esperança e caridade.
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Evaristo Marzabal Neves (Vavá, F66) , Professor Senior, ESALQ/USP.
E-mail: emneves@usp.br