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Sustentabilidade, a importância de um debate sério (Big-Ben; F97)

16/03/2018 - Por mauricio palma nogueira
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Sempre que se aborda um assunto polêmico, uma das consequências é o estímulo a diversas manifestações contrárias. As manifestações podem ser embasadas e dedicadas à contra argumentação, o que enriquece o debate; ou podem focar na desqualificação e questionamento da credibilidade de quem levantou outro ponto de vista. Busca-se, assim, desviar a atenção para o lado pessoal, e não para o que está em discussão.

A segunda linha de argumentação geralmente é adotada por quem não está preparado para discutir o assunto. O preconceito fala mais alto, mesmo que estejam bem-intencionados. Nesse caso, o melhor é evitar qualquer tipo de resposta, sob risco de elevar o tom conflituoso; o que não agregará nada ao tema.

Por outro lado, em situações que essa postura inadequada parte de profissionais que exercem alguma influência, o esclarecimento acaba sendo necessário. É o caso de dois artigos assinados por um pesquisador de conceituada universidade federal e dois profissionais que ocupam posições chave na interação entre pesquisas, instituições, iniciativa privada e representantes do Estado, em assuntos relacionados a questões climáticas.

A polêmica começou com um texto que buscava esclarecer o desenvolvimento da pecuária e desmistificar informações e estatísticas inverídicas, sempre usadas contra o setor produtivo.

O primeiro ponto de divergência é em relação à área total ocupada por pastagens no país.

Ao invés de defender seus pontos de vista através de raciocínio objetivo, acabaram criando uma salada de dados e argumentos que, sem critérios, tornam-se confusos. É o exemplo de tentar negar a recomposição de vegetação nativa, citando pesquisas que concluem perda do índice de cobertura vegetal ao longo de décadas.

Ora, se há áreas de pastagens em recomposição é evidente que não estão nos mesmos níveis de vegetação que estariam, se ainda fossem matas nativas. Essa argumentação insistente não desmente a observação de que, apenas entre 1990 e 2016, cerca de 50 milhões de hectares entraram em processo de regeneração.

Citam pesquisas e pesquisadores e seguem o raciocínio levando a crer que estão diante da negação dos resultados da produção científica.

No entanto, são meras especulações com o objetivo de criar constrangimento entre o profissional que resolveram desqualificar e os profissionais da academia.

Não temos pretensão alguma de negar ou questionar a produção científica; muito pelo contrário.

O Rally da Pecuária, expedição que eu coordeno desde 2011, sempre se esforçou para interagir, contribuir e receber contribuições dos diversos pesquisadores que estudam diferentes temas relacionados. E, sempre que possível, participamos de fóruns ou seminários para os quais somos convidados.

Também participamos entusiasticamente do GTPS e de outras iniciativas que objetivam elevar a sustentabilidade da pecuária.

Nosso limite de contribuição, infelizmente, é orçamentário.

Outro ponto polêmico refere-se à metodologia do inventário de carbono.

É preciso revisar os critérios do cálculo de balanço de carbono na pecuária, por razões que remontam a princípios básicos de conhecimento acumulado durante décadas de pesquisas nas áreas de pedologia, fisiologia de pastagens, biologia animal, hábitos dos animais em pastejo, manejo do pasto, bioquímica do solo, etc.

Não se trata de opinião, mas sim de ciência experimentada na prática, aquela que é ensinada nas universidades.

A produção científica nunca deve ser criticada ou negada; mas o uso feito a partir dela pode, e deve, se for necessário. É esse o caso em questão.

Em seus artigos, depois de diversos parágrafos dedicados a suposições e insinuações, acabaram não respondendo o ponto central em discussão. O que teria acontecido com os 80 milhões de hectares, a mais, de pastos que eles dizem existir? Por que as pesquisas por imagem de satélite não encontram essas áreas?

Se as áreas está lá, não deveria ser difícil encontrá-las, já que somariam quase 10% do território brasileiro.  

A questão é de ordem conceitual, não científica. É nesse ponto que a discussão deve focar.

Se a metodologia irá incluir todas essas áreas em regeneração no balanço da pecuária, será ainda preciso quantificar e qualificar a dinâmica de revegetação. Existe alguma pesquisa que nega a existência de acúmulo de carbono nas áreas em regeneração?  

O público, interessado no assunto, ganhará muito se o debate for conduzido com um nível mínimo de civilidade. 

Maurício Palma Nogueira (Big-Ben - F-97), sócio da Agroconsult Pecuária e coordenador do Rally da Pecuária. É ex-morador da República Jacarepaguá
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