Blog Esalqueanos

Toda mulher asiática é... (Iskrépi; F11)

15/03/2023 - Por luciana okazaki
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

3166 views 4 Gostei 9 Não gostei

Com certeza você completou mentalmente a frase reticente que deixei no título desse artigo. "Toda asiática é inteligente", "...é disciplinada", "...é fofa e meiga", "...fala ´flango flito´", "...é servil e submissa",  "...é igual"!

 

Apesar de nunca ter expressado nenhuma reflexão acerca desse tema, os acontecimentos da 95ª edição do Oscar, que aconteceu no último domingo, me fizeram refletir mais sobre este assunto.

 

Para começar, quero falar sobre as palavras ´asiático´ x ´oriental´. Oriental é um termo que deu bastante o que falar na década de 70, quando livro "Orientalismo" - de Edward W. Said foi lançado. Nele o autor traz a tona o eurocentrismo implícito na palavra, mostrando que ´oriente´ não é um nome geográfico, mas uma invenção política e cultural do ´ocidente´. E como consequência, o ´oriente´ é visto sob um signo de exotismo e inferioridade, criando inúmeros estereótipos acerca dos povos ´do outro lado do mundo´. Já ´asiático´, sim, é um termo referente a uma localidade geográfica, faz jus a um continente e de onde efetivamente são os povos.

 

E já que trouxe clareza sobre este conceito, queria trazer luz a um outro fator: a cor. Asiáticos costumam ser mencionados como amarelos, que na realidade são os leste-asiáticos (Japão, China, Coréia, etc). Mas atente-se para a existência de outras etnias, os asiáticos marrons, por exemplo. Portanto, também não dá para fazer generalizações pela cor.

 

Dito isso, queria trazer uma reflexão sobre os preconceitos e os estereótipos leste-asiáticos que existem. O tema ganhou bastante repercussão com o slogan ´Stop Asian Hate´, movimento que pede fim aos ataques de ódio contra o povo asiático - crescentes durante a pandemia de Covid-19. Uma série de atos violentos, culminando em mortes, aconteceram principalmente nos EUA em 2021.

 

Aqui no Brasil, o preconceito amarelo existe e é ainda pouco tratado pela mídia ou em redes sociais. Como neta de japoneses, posso relatar o preconceito e o bullying que sofri e suas consequências.

 

Quando criança, estudando em uma escola com apenas um outro asiático, era alvo de piadas, apelidos e gozação. A atmosfera hostil criou em mim uma ferida de rejeição que levei anos para entender que existia. A falta de identidade e o sentimento de não-pertencimento perdurou por anos. Era como se eu não me encaixasse em lugar algum.

 

Com isso, a rejeição abriu espaço para a raiva nascer. E ´por aquilo que fui rejeitada, vou criar uma rejeição´. Inconscientemente, fui me afastando de minhas raízes, evitando a cultura japonesa e tudo o que remetesse a ela. Quando ia a algum evento ´obrigada´ pelos meuss pais (quando eu era criança) a raiva era ainda mais alimentada.

 

Foram décadas até fazer as pazes com essa ferida emocional. Para isso acontecer, fiz uso da terapia integrativa. Permiti fazer o resgate do passado, da criança ferida, para enfim curar todo o lixo emocional vindo da rejeição. Hoje, honrar meus antepassados faz com que me sinta fortalecida e inteira. Me permiti construir minha identidade e entendi que como brasileira descendente de japoneses uni o melhor dos dois mundos.

 

Quando a Michelle Yeoh, atriz malaia-chinesa, recebeu o Oscar na premiação do domingo, me senti representada. Percebi o percurso longo que ainda há para se percorrer para derrubar as barreiras dos estereótipos e dos preconceitos, mas trouxe o caminho da esperança. Foi uma grande noite para a representação asiática na maior premiação do cinema, com uma vitória inédita.

 

A partir de agora, te convido a se aprofundar um pouco no assunto e aqui estão algumas sugestões para você:

 

Influenciadores que falam sobre a representatividade amarela:

@eu.natlee - Filha de sul-coreanos e com cabelo não liso, fala sobre cultura asiática

@bruna.tukamoto - Fala sobre representatividade e preconceito amarelo

 

Livros:

Nihonjin, de Oscar Fussato Nakasato - Relata as dificuldades vividas pelos imigrantes japoneses quando chegaram num país totalmente desconhecido, destacando sentimentos e reflexões sobre valores, família, xenofobia, julgamentos, arrependimentos, amor entre outros

 

Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente, de Edward W. Said - como uma civilização fabrica ficções para entender as diversas culturas a seu redor

 

Páginas web que você precisa ver:

https://buzzfeed.com.br/post/por-que-voce-nao-deveria-chamar-pessoas-asiaticas-de-orientais

https://www.hypeness.com.br/2017/07/precisa-que-desenhe-para-entender-que-chamar-asiaticos-de-japa-e-dizer-que-sao-todos-iguais-e-preconceito-pois-um-estudante-desenhou/

 

Se você se identificou com o assunto, deixe um comentário para eu saber ?? E caso você tenha um amigo(a) asiático, compartilhe esse texto para saber que você se importa!

 

Luciana Okazaki (Iskrépi; F11) ex-moradora da República Cupido, é engenheira agrônoma vivendo seu propósito como Terapeuta Integrativa

 

Quer explorar seu mundo interno e ter uma vida com mais saúde mental e bem-estar? Veja outros insights sobre o caminho do autoconhecimento no meu Instagram @luciana.okazaki

PUBLIQUE NO BLOG!