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Tréplica aos Desavisados. Ou: "do Alto da Torre de Marfim..." (Di-Mark)

06/04/2015 - Por vitor hugo medeiros dhers
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Tréplica aos desavisados. Ou: "do alto da torre de marfim..."


(Bertrand Russel, Nobel da Literatura - 1950 - ""em reconhecimento aos seus escritos variados e significativos, nos quais defende os ideais humanitários e a liberdade de pensamento")(Bertrand Russel, Nobel da Literatura - 1950 - "em reconhecimento aos seus escritos variados e significativos, nos quais defende os ideais humanitários e a liberdade de pensamento")

No ano de 1950, o filósofo Bertrand Russel ganhou o prêmio Nobel da Literatura. É dele a frase " O problema com o mundo é que os tolos estão cheios de certezas, enquanto os inteligentes estão cheios de dúvidas". Nenhuma outra frase pode descrever melhor os acontecimentos dos últimos dias, das discussões envolvendo o trote, no meio esalqueano. Há uma disputa assimétrica: um lado, conta com o apoio de uma classe jornalística voltada ao sensacionalismo, que incansavelmente produz conteúdo de cunho falseável, não verificado; por mais, conta com o apoio de certos membros docentes, de uma minoria de alunos, vezes carentes de reputação, vezes dotados de motivações ideológicas, ou até mesmo, da falta de interesse da verdade dos fatos da audiência regular. O outro lado, o do esalqueano médio, acaba não tendo tempo para responder sequer a seus círculos sociais curiosos sobre a veracidade das notícias, não conta com o apoio de qualquer órgão da mídia para descrever sua situação do dia-a-dia, descrita de maneira tão absurda, fazendo-lhe ou crer que -- ou está ficando maluco, por não encontrar semelhança entre o narrado pelos jornais e seu cotidiano enquanto estudante; ou que alguém tem faltado com a verdade, na descrição cabal dos fatos. Sem contar na enorme diferença de poder que existe entre a magistratura e a discência, o aluno vê-se coibido a não prestar resposta de maneira formal ou identificada, visando não se comprometer, porque em ordem de trazer a discussão ao eixo da veracidade, ele precisa primeiro tirá-la do eixo descalabroso da fábula, da estória e do oportunismo, e para fazê-lo, terá de entrar em atrito com versões diferentes das suas, inevitavelmente questionando tanto elas quanto seus autores.

 

Estou escrevendo esse texto para incentivar a todos os bons esalqueanos que não esmoreçam nesse momento de acusações pupulantes. Não escrevo para entrar em uma discussão de juízo de valor, acerca do trote, e cair no engodo desses determinados grupos, dando-me por derrotado pura e simplesmente por aceitar os termos da discussão, mas, para denunciar o ardil com que são feitas essas "denúncias", bem como sua auto-evidente esterilidade de compromisso para com a verdade. Também escrevo para lembrar à legião denodada que "lutar pela grande nação", via de regra, é lutar pela justiça e pela verdade. Não tenhamos medo de rebater a acusações daqueles que sequer têm coragem de ter o compromisso com a verdade. Lembremos que somos membros-fundadores da Universidade de São Paulo, cujo terceiro artigo do seu estatuto reza: 


Artigo 3º – A USP, como Universidade pública, sempre aberta a todas as correntes de pensamento, reger-se-á pelos princípios de liberdade de expressão, ensino e pesquisa.


Levemos a discussão para o campo ideológico, abusemos da liberdade de expressão, mas não faltemos com respeito àqueles, contrários aos nossos pontos que vista, que por vezes, chegam até a nos ofenderem no ímpeto de defender suas idéias. Fazendo isso, não teremos qualquer tipo de problema em defender nossas opiniões; por mais, ainda estaremos nos remindo de nos colocar na posição exposta na citação que encabeça esta coluna.


Por falar nesta coluna, ela tem dois motivos para existir. O primeiro, foi o artigo dessa quinta-feira que saiu no G1, onde o professor Antônio Almeida "diz ser atacado por combater a violência".

 

(Pequeno dicionário amoroso da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - Roberto Rodrigues, Ivan Wedekin - 2001)(Pequeno dicionário amoroso da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - Roberto Rodrigues, Ivan Wedekin - 2001)

O segundo motivo, e o estopim para que eu pudesse compartilhar minha indignação perante essa passagem, encontra-se na narrativa de Roberto Rodrigues (F-65), "Lutas", do "Pequeno Dicionário Amoroso da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"". Nela, o ex-ministro da agricultura exalta o esalqueano como combatente incansável pelos ideais de paz e de democracia, e conta quando, nas palavras do autor, "em plena vigência da revolução de 1964", os alunos atreveram-se a contestar seus mestres, em ordem de defender o que achavam justo. Neste momento, devo me redimir frente aos heróis de nossa história: perdão por "à sombra do mundo errado, murmurar um protesto tímido". No atual e presente contexto de maior liberdade de expressão, não defender a imagem de nossa Escola não é apenas atirar sua história à lama, mas também é disferir um soco na cara daqueles que dedicaram a totalidade suas vidas idôneas para construí-la da maneira mais ilibada possível.

 

 

 








No trecho que segue, vou responder à reportagem do G1, que vai de normal. Eu vou a seguir, de preto.

 

( A reprodução do texto dessa reportagem não tem qualquer fim econômico ou de vilipêndio ao jornal e seus autores ou editores.)
(reportagem disponível em: http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2015/04/professor-que-denuncia-trotes-na-usp-se-diz-atacado-por-combater-violencia.html - acesso em 04/04/2015 )

( A reprodução do texto dessa reportagem não tem qualquer fim econômico ou de vilipêndio ao jornal e seus autores ou editores.) 

(reportagem disponível em: http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2015/04/professor-que-denuncia-trotes-na-usp-se-diz-atacado-por-combater-violencia.html - acesso em 04/04/2015 )

 

Claudia Assenci

Do G1 Piracicaba e Região

 

 

“Sou atacado injustamente por combater a violência no campus", afirmou o professor Antonio Ribeiro de Almeida Junior, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), campus da USP em Piracicaba. Ele pesquisa a violação de direitos humanos nas universidades há 14 anos, falou sobre abusos à CPI dos Trotes, denunciou neste ano a existência do "Manual do Bixo" e disse ao G1 que passou a ser visto como alguém que "mancha a imagem da universidade".

 

(O professor Antônio Almeida começa seus queixumes dizendo que é atacado "injustamente" por combater a "violência" no campus. Vejamos... Eu realmente esperava uma estratégia argumentativa melhor por parte de alguém que sustém o título de "Professor da USP". Ainda mais ele, que é um estudiólogo da ciência humana, professor da disciplina de "Ciência, Métodos e Técnicas de Pesquisa", aparentemente, por sua resposta, parece entender muito pouco do processo científico, aplicado à ciência humana, onde a palavra escrita substitui o dado observacional da ciência natural clássica. Dentro do contexto argumentativo, para se refutar uma conclusão ou uma teoria, deve-se impugnar sua premissa, ou as conclusões delas derivadas. Não é esse o caminho que toma o professor Almeida, ao redarguir os apontamentos do ex-aluno, mais abaixo referido. A resposta do professor Almeida evoca o mero cacoete estratégico, muito bem descrito pelo oitavo item listado por Eduardo Britto em seu brilhante artigo para o IL (disponível em:http://www.institutoliberal.org.br/blog/debatendo-com-esquerdistas/ - acesso em 04/04/2015): 


"(...) qualquer incitação ao combate às suas ideias autoritárias é vista como incitação à violência ou discurso de ódio. Às vezes, até mesmo um simples posicionamento contrário ao que eles defendem é visto como algo extremamente violento. Ocorre muito quando alguém se opõe ao autoritarismo dos tais movimentos de minorias (...) Isto é apenas mais uma maneira de fugir do confronto intelectual honesto e posar de vítima."


Não entrarei muito no assunto da existência do Manual do Bixo e sua "denúncia", vez que já escrevi esse artigo (https://www.facebook.com/notes/hugo-di-mark-dhers/maldito-manual-opressor/929795003719481) , que certamente o professor Almeida não leu, outrossim não faria essas ressalvas ali já refutadas. Na nota, procuro elucidar que o manual está longe de ter a perniciosidade que lhe imputam.

 

 

Ao cabo, o fato de ele dizer ao G1 que passou a ser visto como "alguém que mancha a imagem da universidade". Ora, se algúem denuncia uma série de supostos abusos amplamente falseáveis, sem dar-lhes nome de executores fazendo-o de maneira genérica, acusando alvos múltiplos e heterogêneos, não encontrando casos puníveis, criando uma verdadeira "caça às bruxas", não está indo muito além da pura e simples arruinação da imagem do corpo discente, parte integrante da Universidade, conotando que todo o esalqueano é, quando não praticante, condolente com esses abusos e desumanidades. No conforto de sua torre de marfim, sua sala, em seu departamento, ou quem sabe?, em sua morada, o professor Almeida jamais recebeu à sua porta um vizinho ou desconhecido, alegando: "sabemos de tudo que vocês estão fazendo, estamos de olho. É melhor vocês ficarem espertos.", ou, quando foi à lanchonete dentro da própria Escola, jamais deve ter ouvido impropérios como " Você pare de judiar dos bixos. Você tem cara de quem judia dos bixos!", como ocorre com algumas repúblicas, seus membros e muitos esalqueanos. Se isso não é ter a própria imagem manchada, isto é, ser acusado e tratado como culpado por algo que não há a menor certeza de ter ocorrido, estamos carecendo de uma melhor definição.)

 

 

“De repente o que mancha a imagem da universidade não é a violência praticada nela, mas o fato de você denunciar que existem abusos", declarou. Em uma publicação no site da Associação dos Ex-Alunos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Adealq), um engenheiro agrônomo formado em 1997 questiona a dimensão e até a existência dos abusos.

 

(Não cansa o professor em propagandear sua ideia, mesmo carecendo de fontes ou provas concretas. A ideia de que o que mancha a imagem da universidade é a denúncia da violência e não a violência propriamente dita, parte do pressuposto falso de que aquilo que ocorre dentro da universidade, via de regra, é violência. Por mais, que ela procura se legitimar na condição de ingressante x veterano. É a velha história teórico-marxista da "luta de classes", dos ricos contra os pobres, os negros contra os brancos, dos héteros contra os homos, aplicada ao contexto universitário -- os veteranos contra os ingressantes. Não é possível perceber as conseqüências catastróficas  que esse argumento ad hoc trouxe e tem trazido para o mundo e para o Brasil? Trata-se da recorrente astúcia progressista adaptada, de fomentar a corrupção, o crime, a desordem e o ódio, para logo em seguida, denunciá-los, obter o prestígio popular e, conseqüentemente, obter mais poder político, sob o pretexto de combater essas manifestações. Aplicando a nosso caso, em vez de fomentar, basta contar os contos, aumentar-lhe pontos, denunciar casos abstratos e genéricos, imputar-lhes motivações torpes e classificar como "violência" interações onde há o consentimento mútuo das partes. Em vez de fomentar a violência, basta simplesmente inventá-la ou a enxergá-la onde não existe. Assim, criando essa atmosfera de constante medo, calcada na invencionice, pode-se recorrer aos nossos aos legisladores, que participaram da CPI contra o trote neste ano, ou, aos membros docentes dos conselhos universitários, que também produzem regras de funcionamento interno,  e sugerir-lhes (já que se tratam de "especialistas" no assunto), uma série de descalabros contra as liberdades individuais e os direitos de livre associação dos alunos da escola, quiçá ex-alunos. São coisas como: a criação uma equipe que tem objetivo de adentrar as repúblicas e casas de estudantes, para vasculhar provas da prática de trotes( esse fere o princípio constitucional da impossibilidade de produzir provas contra sigo mesmo); a proibição da realização de estudos de pós-graduação, caso tenham os alunos, praticado aquilo que se define como trote; a perda de bolsas de estudos e estágios; e na última instância, mesmo após estarem formados os alunos, sejam proibidos de participar de concursos públicos, caso tenham abraçado tais práticas na mocidade.

(Medidas sugeridas para coibir a prática do trote, apresentadas pela Sessão de Graduação para discussão e apreciação dos alunos de graduação, por e-mail em 18 de Setembro de 2014)

(Medidas sugeridas para coibir a prática do trote, apresentadas pela Sessão de Graduação para discussão e apreciação dos alunos de graduação, por e-mail em 18 de Setembro de 2014)

 

Todas essas propostas e outras, de cunho igualmente autoritário, foram apresentadas como se fossem sensatas soluções para o problema do trote dentro das universidades paulistas, mais especificamente dentro de nossa Escola; só não foram encaradas como o que verdadeiramente são, uma clara erosão das liberdades e dos direitos pessoais dos indivíduos, de livremente associarem-se, agirem e decidirem por si. Trata-se da institucionalização da discriminação entre alunos, em grupos de "bons" ou "maus", baseando-se em sua conduta extra-acadêmica, não de acordo com o critério de avaliação dos próprios e eventuais ofendidos, mas sim dos iluminados fiscais que conseguem discernir melhor que os próprios alunos, se esses foram ou não atacados. Não contentes em legislar as punições e executá-las, esses grupos também desejam julgá-las? Só para mim isso parece obviamente anti-democrático? Quem regulará os reguladores?)

 

"Sobram-me razões para duvidar que o comportamento dos estudantes tenha atingindo o nível apresentado nas denúncias", diz um trecho. O texto com o título "Combate à Violência ou Autopromoção?" ainda afirma: "Almeida procura a evidência de violência nas repúblicas há pelo menos 15 anos e parece nunca ter achado algo de concreto". O autor da publicação pediu ao G1 para não ter o nome divulgado na matéria.


(Aqui, encontramos uma reforço à minha teoria da atmosfera de medo. Quer dizer, é realmente necessário que um ex-aluno venha a se pronunciar a respeito do que ocorre na universidade, enquanto o poderiam fazer os seus alunos atuais, que vivem essas situações? Por que não o fazem? Certamente não é pela carência de tempo, ou de incapacidade de escrever. Eu arrisco dizer, pelo muito que tenho conversado com os demais alunos sobre o assunto, que há o imperativo do medo, de dirigir-se a alguém do corpo docente de maneira inapropriada e ter o resto de sua graduação marcada, quiçá ter comprometida sua matrícula, por apresentar o "comportamento inadequado" de defender sua imagem enquanto aluno, sob a constante acusação de ser praticante ou conivente de exercícios de desumanidade. Quer dizer, o aluno, além de ouvir de outros que presta suporte a essas ações, o deve fazer calado. Há o interesse do grupo auto-proclamado "contra a violência" em zelar por esses estudantes, em tão óbvia e pejorativa posição, ou simplesmente há o interesse de promover seu aviltamento? As posições tomadas por esses grupos dão uma resposta clara a essa pergunta.)

 

Defesa da violência

Para Almeida, reações como essa reforçam a presença de um grupo que defende a prática dos trotes, “que não é espontânea, mas incentivada”.  “Mas enquanto tiver aluno sendo humilhado, agredido e desrespeitado na universidade, essa luta tem que continuar”, afirmou.

 

(Neste ponto, encontramos nosso professor de metodologia científica fazer o uso da estratégia da "falácia do espantalho"( http://pt.wikipedia.org/wiki/Fal%C3%A1cia_do_espantalho ), trocando em miúdos:

  1. Pessoa A defende o argumento X
  2. Pessoa B ataca o argumento Y como se ele fosse o argumento X, quando na verdade ele é uma versão distorcida de X

Aquele que leu o texto citado e não tem uma interpretação enviesada do assunto, consegue bem dizer que o autor não propunha desmentir os apontamentos do professor, ou fomentar o trote, apenas propunha que essas denúncias fossem apuradas com mais rigor, explicando que, à sua época, as mesmas denúncias eram promovidas e, se então não se tratavam de testemunhos verossímeis, hoje provavelmente também não o são. O mesmo objetivo tem o presente texto, que em momento nenhum faz apologia ao trote. No entanto, para o professor, em vez de ele se propor a fazê-lo, apresentar maior embasamento às suas denúncias genéricas, ele prefere refutar um argumento imaginário, de que o autor promove e fomenta o trote. 

 

(Carl Menger, fundador da Escola Austríaca de economia e desenvolvedor da "Teoria do Valor Subjetivo", pioneira na refutação da "Teoria Valor Trabalho" em que embasavam os estudos de Marx. Definição de valor para Menger: um bem tem valor pois satisfaz uma necessidade, sendo que esse valor deriva da necessidade que não seria satisfeita caso não tivéssemos o bem.)(Carl Menger, fundador da Escola Austríaca de economia e desenvolvedor da "Teoria do Valor Subjetivo", pioneira na refutação da "Teoria Valor Trabalho" em que embasavam os estudos de Marx. Definição de valor para Menger: um bem tem valor pois satisfaz uma necessidade, sendo que esse valor deriva da necessidade que não seria satisfeita caso não tivéssemos o bem.)

O mesmo ardil epistemológico encontra-se a seguir. Qual é o problema de uma prática ser incentivada? Apenas são legítimas as práticas que são espontâneas? Se isso fosse mesmo verdade, usando o argumento lógico reductio ad absurdum -- se essa implicação fosse levada a seu caso extremo, não existiria qualquer desenvolvimento humano, uma vez que o incentivo e o convencimento são ferramentas inerentes às relações voluntárias. João convence Pedro a comprar um carro por 10 mil, ao completar-se essa transação, tanto João quanto Pedro encontram-se em uma melhor situação que anterior à troca, não o fosse verdade, eles não a teriam realizado. João não obrigou Pedro a comprar, ele apenas o convenceu ; não tivesse isso acontecido, a criação de valor (esse sempre subjetivo, como já explicado por Carl Menger, pioneiro na refutação da obra marxista) com base na troca voluntária jamais teria existido. Mas essa mentalidade da simples troca, seja de bens ou idéias, do valor subjetivo, da associação voluntária, não permeia a cabeça de muitos grandes intelectuais e planejadores sociais, que se imbuem do direito de saber para as pessoas o que é melhor para elas, que elas mesmas. Não vêem virtude no convencimento e aceitação voluntária, mas a encontram na imposição por regras e ditames. Alguma semelhança? Há, ao cabo do meu texto sobre o manual do bixo, já supracitado, uma apologia às relações voluntárias e a defesa moral da liberdade das pessoas fazerem aquilo que desejam, muito embora isso represente para outros algo controverso ou incompreensível.

 

Na segunda citação, existe apenas a preocupação de justificar os meios através dos fins. Quem em sã consciência pode dizer que defende a agressão, a humilhação e o desrespeito? Ora, ninguém! Mas qual é a proposta desse grupo para acabar com a suposta presença desses flagelos? Invasão domiciliar? Impedimento de acesso a concursos públicos e pós-graduação? Segregação dos alunos em "humanos" e "desumanos"? Eles querem acabar com a humilhação, a agressão e o desrespeito promovendo-os em maior grau? Não é, senão a antiga proposta de se queimar a casa para se livrar do rato, uma vez que não se percebe que o fato que levou à atitude tem menor gravidade que suas conseqüências. E naturalmente, também existe o imperativo moral de lembrar a todos que, para muitos desses casos, a agressão é algo subjetivo; muitos praticam o trote discricionariamente e assim se divertem e integram, sem fazer uso de mecanismos de imposição; essa é uma "agressão" infinitamente menor que, digamos, alguém entrando em sua casa para encontrar réprobas provas contra sua conduta. O mesmo se aplica à humilhação e ao desrespeito.)

 

 

Durante os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura a violência nas universidades paulistas, voltou à tona em janeiro deste ano o caso do suposto estupro sofrido por uma caloura da Esalq há cerca de 12 anos. O reitor da instituição, Marco Antonio Zago, afirmou que a investigação sobre o crime deveria ser retomada.

 

(Neste trecho, vale lembrar aos desavisados, o caso referido é o do suposto estupro da aluna por então calouros, do mesmo ano que ela. O que essa singela observação tem a nos mostrar? Que o fato de serem estudantes do mesmo ano torna inviável a associação da prática com a de trote, que procura se legitimar na razão hierárquica veterano x ingressante. Trata-se de um argumentum ad hoc. Outra evidência da existência do já citado mecanismo de criação de motivos para legitimar a cruzada contra o trote.) 

 

Vídeos

Vídeos feitos em eventos realizados por repúblicas de Piracicaba mostram como são tratados os calouros da Esalq. Alguns destes estudantes dizem que os abusos ocorrem de forma gradativa e pioram com o passar do tempo (veja ao lado imagens de trotes).

"A coisa vai tomando uma proporção de chegar ao nível de você se negar a fazer alguma coisa e eles te obrigarem a fazer outra pior, como comer porcarias misturadas pra te fazer vomitar", conta uma aluna que preferiu não ser identificada.

 

(No vídeo, uma testemunha "imparcial" do trote agressivo, usando uma camisa do movimento político "Levante Popular da Juventude", associação que tem óbvias relações com o PT, partido que protocolou a CPI do trote na Câmara de São Paulo)(No vídeo, uma testemunha "imparcial" do trote agressivo, usando uma camisa do movimento político "Levante Popular da Juventude", associação que tem óbvias relações com o PT, partido que protocolou a CPI do trote na Câmara de São Paulo)

(Este espaço não tem por objetivo responder a esse vídeo, que pode ser encontrado no próprio site da reportagem. Apenas, faço alguns apontamentos. Além de haver apenas cenas borradas que não provam em nenhum momento que são práticas forçosas e involuntárias, ou ainda que ocorrem dentro da ESALQ, há duas testemunhas. A segunda, expõe uma opinião anônima, como sempre muito genérica. Já a primeira, mantém o mesmo tom genérico, mas nos agracia com sua imagem -- percebam que ela usa uma camisa do "Levante Popular da Juventude", uma associação política jovem que tem escusas relações com partidos de esquerda como o PT (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/tag/levante-popular-da-juventude/http://www.pt-sp.org.br/noticia/p/?acao=vernoticia&id=14382 , etc, basta apenas procurar no Google, que sobram notícias). O que alhos têm a ver com bugalhos? Simples. Quem protocolou a criação da CPI do Trote no Estado de São Paulo foi o Deputado Adriano Diogo, do PT. Existe realmente a necessidade de explicar que os alunos que "testemunham" não são escolhidos aleatoriamente? Isso seria algo razoável de se fazer, caso se estivessem buscando opiniões livres de viés.)

 

 



Uma minoria

A Esalq tem cerca de 3 mil alunos matriculados e apenas 10% desses estudantes estão envolvidos nos trotes diretamente, segundo Almeida Junior. “Desse grupo de 300 alunos, podemos dizer que 40 agem violentamente e incentivam a prática”, afirmou. O professor é um dos autores do livro "Universidade Preconceitos & Trote".


(Eu gostaria de saber como se fazem essas deduções e estimativas. Trata-se de um cálculo diferencial integral? Trata-se de uma amostragem populacional? Qual é a parte da ciência humana aplicada que embasa essa estimativa? Ou os alunos são fichados como "trotistas" e "não-trotistas", contados e arredondados? Como sempre, as denúncias e seus métodos de análise são sempre muito pouco esclarecedores. Não se dirigem a pessoas específicas (repúblicas em geral não têm CNPJ), porque isso talvez pudesse causar problemas legais; não são precisas quanto a tempo e espaço de seu ocorrido. E mais: sequer partem dos "agredidos". E quando partem, não perdem o teor de generalista. Ou quando não são proferidas por pessoas tão obviamente suspeitas. Há anos a Universidade disponibiliza linhas de denúncia para casos de abuso. Por que não se divulgam os dados agregados de abusos de lá oriundos? Teoricamente, trata-se de fonte riquíssima de dados para avaliar a questão. Há uma consonância desses dados com essas denúncias genéricas, ou estes grupos estariam apenas combatendo fantasmas?)

 

Apesar de ser minoria, o pesquisador ressalta que as consequências dos atos de violência, moral, psíquica e, muitas vezes, física, são graves. “Os traumas podem ser devastadores. É uma vida acadêmica que pode ser interrompida, um sonho conquistado com esforço. Se vivemos uma democracia, não podemos deixar que a violação se sobreponha ao respeito.”

 

(Tampouco podemos deixar que pessoas sejam consideradas culpadas sem passar por um juizado competente e imparcial, por violar regras claras e pré-estabelecidas. Essa é outra premissa básica de uma democracia.)

 

 Diretoria da Esalq

O Diretor da Esalq, Luiz Gustavo Nussio, também defende que apenas uma minoria de estudantes de repúblicas comete violações aos direitos humanos durante os trotes. "A maior parte das repúblicas representam um ambiente acolhedor, de integração, de crescimento do indivíduo como cidadão. Portanto, não está certo, e eu acho que é totalmente indevido, associar o nome de república a trote", afirmou

 Nussio à EPTV, afiliada TV Globo.


(Na imagem, o Diretor e Prof. Dr. Luiz Gustavo Nussio, o equivalente ao "Dumbledore" da realidade esalqueana)(Na imagem, o Diretor e Prof. Dr. Luiz Gustavo Nussio, o equivalente ao "Dumbledore" da realidade esalqueana)


(Obrigado, Diretor Nússio, por nos provar que ainda podemos ter esperanças na competência do corpo Docente de nossa Escola centenária. Seu depoimento e seu trabalho em nome da preservação da verdade tem sido de grande valia. Como vocês podem observar, não são todos os professores que tomam o mesmo partido do professor Almeida. Eu me arriscaria em dizer, ainda, que é uma minoria, bem barulhenta. Muitos compreendem, assim como a grande maioria do povo paulista e sua história, os benefícios da liberdade e da livre associação dos povos -- não vêem problemas nas ações, por vezes controversas, dos outros; não acreditam que mais leis e regulamentos irão miraculosamente resolver problemas de comportamento dos membros da sociedade; crêem na capacidade de discernimento da sociedade para dizer "sim" ou "não" quando lhe aprouver. Entendem que muitas condutas não passam de simples brincadeiras, não tem por objetivo subjulgar ou humilhar o próximo; confiam na suficiência do código penal para coibir desvios como coação, agressão física, ameaça e demais desventuras, já tipificadas, que possam desabrochar do comportamento humano. Esse povo guerreiro e civilizado financia as atividades de nossa Universidade, desde antes de sua épica composição, que lhe retribui alcançando os melhores lugares nos rankings internacionais (http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2014/11/ranking-americano-cita-esalq-como-5-no-mundo-em-ciencias-agrarias-piracicaba.html), produzindo ensino, cultura e extensão de ponta (http://www.esalq.usp.br/instituicao/esalq_numeros.htm ). São esses aqueles que se preocupam verdadeiramente em construir algo concreto e duradouro, benefícios provados para a produtividade do agronegócio e todas as flores do conhecimento que dele desabrocham. Não se preocupam em pregar ideologias vazias, responsáveis unicamente por criar uma série de conflitos históricos (como o caso da revolução russa de 1917), representados no congresso e na política nacional por partidos como PT, PCdoB, PCO, PSOL e afins.)

 

Ao fim, e para o título fazer sentido, o termo "torre de marfim" designa uma atmosfera onde intelectuais se envolvem em questionamentos desvinculados das preocupações práticas do dia-a-dia. Eu não preciso ir à Brasília para testemunhar essa dinâmica, já que ela regularmente acontece em nossa Escola.  As mesmas conseqüências graves que dessas ações e ideologias resultam, no cenário federal, na destruição da imagem e do patrimônio público, resultam, nas nossas relações e discussões corriqueiras, na destruição do patrimônio histórico de uma imagem ilibada, construída a duras penas e esforços. Aguardo ansiosamente o dia em que receberei uma resposta digna de preocupação intelectual, não apenas queixumes. Que, sob um emaranhado de argumentos bem fundamentados e teorias amplamente discutidas na história e na academia, me expliquem por que uma relação voluntária que não oferece prejuízo para qualquer das partes ou terceiros, ainda que controversa, pode ser menos moral que a imposição de regras e filosofias que pura e simplesmente se legitimam em seus objetivos, sem fazer vista a seu custo inerente, em termos de sacrifício de liberdades.

Esalqueanos, jamais perdamos a força e o ânimo em denunciá-las, por mais desanimadoras e auto-evidentemente falsas, que essas ações pareçam ser. Não nos omitamos quando provocados. Da mesma maneira que, quando lutou para conseguir dos escravos a permanente alforria, nosso Pai, Luiz Vicente de Souza Queiroz, nos ensinou as vantagens e a moralidade contidas na defesa da causa da liberdade, lutemos nós pela nossa e de nossos pares, cada dia mais ameaçadas.

(Túmulo de "Luiz de Queiroz" e Prédio Central. " Oh Escola! Oh flor da montanha!
Oh insigne "Luiz de Queiroz"!
Tua história é uma força tamanha,
que nos faz avançar mais veloz.

Tua vida, o passado escreveu!
Tua glória, o futuro dirá!
Teu presente assinala o apogeu
do grandioso amanhã que virá.

Ao cantarmos as nossas conquistas,
numa vida de intenso labor,
outra coisa não temos em vista,
que pagar-te um tributo de amor."
Trecho de Ode à ESALQ)

(Túmulo de "Luiz de Queiroz" e Prédio Central. " Oh Escola! Oh flor da montanha! Oh insigne "Luiz de Queiroz"! Tua história é uma força tamanha, que nos faz avançar mais veloz. Tua vida, o passado escreveu! Tua glória, o futuro dirá! Teu presente assinala o apogeu do grandioso amanhã que virá. Ao cantarmos as nossas conquistas, numa vida de intenso labor, outra coisa não temos em vista, que pagar-te um tributo de amor." Trecho de Ode à ESALQ)

 

 

 

Antes da despedida, vale lembrar a todos (como comecei com um Nobel de literatura, não seria justo terminar com menos): 


" O preço da grandeza é a responsabilidade " - Winston Churchill.

 

 

Vitor Dhers (Di-Mark) - é aluno de graduação do curso de Ciências Econômicas, morador da Republica Malók.

 


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