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Whatsapp Wars (Alma; F87)

07/06/2021 - Por fernando de mesquita sampaio
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Em 2020, o Whatsapp estava sendo usado por 2 bilhões de pessoas no mundo. No Brasil, onde o aplicativo está instalado em 99% dos celulares, ele é usado quase que diariamente por 120 milhões de pessoas.

É muito bom poder conversar a qualquer hora com alguém, perto ou longe, seja por necessidade, por saudade, ou só para ter aquela sensação que estamos junto dos amigos não importa da distância.

Brasileiro já é um animal sociável. Esalqueano então, vixe!

Acontece que spin doctors da informação e da desinformação não iam deixar a gente usar isso impunemente né. Whatsapp é uma arma na batalha pela opinião pública.

E aí você, leitor amigo, que está no grupo da república, do seu ano, do seu esporte, do seu estado, da sua cidade, do seu ramo de trabalho, está vendo acontecer o que provavelmente já aconteceu no grupo da sua família.

Alguma mala posta uma ofensa ou uma fake news. Outro responde. Um outro xinga. Mais um xinga e bota a mãe no meio. E aí como diria aquele saudoso locutor de rádio de Piracicaba: cu de boi na área do Quinze... O quilombo tá armado. E como nas melhores famílias, amizades vão se desfazer, mágoas irão brotar, ofensas ficarão registradas e perderemos toda a vontade e a alegria de estarmos juntos.

Eu comecei a entender algo sobre o fenômeno lendo o que a jornalista e especialista em mídias digitais Madeleine Lacsko fala sobre cidadania digital.

O primeiro conceito que ela nos traz é um fenômeno descrito pelos psicólogos Jay Van Bavel e Dominic Packer e denominado por estes de Realismo Ingênuo. É o principal fenômeno a estimular conflitos entre pessoas e grupos.

O que esse conceito diz é que a maioria das pessoas acha que tem uma leitura objetiva e racional do mundo. Quando essa pessoa se depara com alguém com uma visão contrária, ela obviamente considera que a outra está errada. E está errada porque a) é burra b) é desinformada c) é mau caráter d) é louca e) está sendo paga f) é manipulada ou todas as anteriores...

Quando confrontadas com fatos, as pessoas em confronto tendem a se radicalizar ainda mais em suas posições, e procuram segurança no grupo que apoia suas ideias. A sensação de "pertencimento" ao grupo que reforça suas ideias passa a ser mais importante do que os fatos em si. Uma pessoa indentificada como "do outro grupo" é a que precisa ser cancelada, virtualmente linchada e publicamente humilhada. Aí os grupos começam a se atacar, com mais ou menos virulência, o assunto acaba tomando uma proporção impensável e tomando o tempo e a energia de todo mundo que está ali.

A polarização no fim é piorada por todos os algoritmos de internet, que te levam sempre a conteúdos que atraem sua atenção, ou seja, no fim, a internet acaba estreitando seus conhecimentos mais do que ampliando.

Creio que alguns dos grupos de esalqueanos em que estou correm sério risco de descambar para uma chatice sem fim nesse 2021. E olha que 2022 promete ser ainda mais animado.

Independentemente de sua crença política, religião, orientação sexual, idade e outras variáveis, seguem algumas dicas para preservamos todos a sanidade mental nas Whatsapp Wars :

  1. Não, você não é o alecrim dourado que detém algum conhecimento especial sobre a geopolítica mundial que o resto da humanidade ainda não sabe porque não alcançou seu grau de iluminação. E não é seu dever ou obrigação tentar catequizar os que não pensam como você. Não seja o chato repassador de tudo o que você acha que reforça suas ideias (ainda mais sem verificar a origem dessas notícias);
  2. Sim, é possível pessoas que viveram contextos diferentes terem visões de mundo distintas, e é possível que elas coexistam e debatam ideias pacificamente. Tente acessar conteúdo que difere do que você acredita, pelo menos algumas vezes por semana;
  3. Se você não é especialista em um assunto, como infectologia, você não pode falar em nome da ciência, você pode falar com base na confiança que tem em alguns cientistas. Vale para outros assuntos também;
  4. Previna a radicalização do seu grupo. Um bom sinal, é entender que por mais ardorosamente que defenda uma posição, a linha da dignidade humana não pode ser cruzada. Coisas como "esses daí tem mais é que morrer mesmo" são sinais de que você está na companhia errada. Aliás policie-se você mesmo sobre o que diz. Como diz a Madeleine, nós não somos o que dizemos que somos, nós somos o que toleramos);

(Um parêntese. Esta semana a deputada Manuela D'Avila falou em suas redes que um pai da escola de sua filha de cinco anos, tirou uma foto da menina e a fez circular em grupos de whatsapp. A deputada já recebeu ameaças de morte e de estupro de sua filha. Posso não concordar com a maioria dos pensamentos da Manuela, mas esse é um exemplo da degradação moral a que podemos chegar nessa radicalização. Já cheguei a ver em grupos esalqueanos apologia à tortura, à ditadura, racismo entre outras coisa. De novo, nós somos o que toleramos).

        5. Saibam que a violência virtual tem uma grande chance de se transformar em violência física nas ruas. Veremos mais jornalistas e políticos sendo espancados por turbas, à direita e a esquerda. Não queira ser o agente dessa violência;

        6. Todo mundo pode errar, reconhecer erros, pedir desculpas, seguir em frente.

 

Lembrem-se: o que nos une amigos, é muito mais do que o que nos separa. 

Lembrem-se também: todo grupo de whatsapp tem um grupo menor sem os chatos. Se você não está nele... é um mau sinal.

 

PS: ofensas às torcidas adversárias são permitidas.

PS II: Vejam :

https://madeleinelacsko.substack.com/

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